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MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

quarta-feira, 2 de março de 2011

MULHER, CANDOMBLÉ E SAÚDE

Ialorixá Lúcia D’Oxum
       Desde os primórdios, as mulheres de todas as etnias vêm lutando por um lugar de destaque na sociedade em quem vivem. Isto está bem evidenciado nas religiões afro. Ao contrário das outras religiões, no Candomblé, a mulher é a grande sacerdotisa.
    Para nós, a explicação deste fato está na própria religião. Apesar de também existirem Babalorisás, as mulheres, segundo algumas Iyalorisás, têm mais Asé. Nas culturas africanas, de onde o Candomblé se originou, o poder político e religioso era do homem. Aqui, [no Brasil] houve uma troca de poder entre os sexos. As negras foram alforriadas antes dos homens. Aí então, conseguiram entrar no mercado de trabalho como doceiras, lavadeiras, cozinheiras, etc. Elas tornaram-se chefes de suas famílias. Várias chegaram a comprar a liberdade de seus companheiros antes mesmo da abolição.
     Respeitadas na comunidade negra e com maior poder econômico do que o homem, elas foram também as primeiras a abrir terreiros [templos] e assumir papéis de relevância na hierarquia sacerdotal. Isto se deu mais ou menos em meados do século XIX.
    Este poder feminino dentro dos cultos afros se mantém até hoje. Os terreiros mais famosos do Brasil estão nas mãos de mulheres e devem continuar assim por bastante tempo.
    Quando falamos em poder feminino, não poderíamos jamais de esquecer três valorosas negras: Ia Nassô, Ia Detá, Ia Kalá, que, com determinação e coragem, conseguiram, após enfrentarem o preconceito cruel da época, organizar e instituir a vertente da religião africana conhecida como Candomblé, que se tornou símbolo de sobrevivência e resistência de um povo que foi arrancado estupidamente de sua Terra Mãe.
    Também não poderíamos esquecer as atuais Iyalorixás, famosas ou não, que continuam na luta pela continuação de nossa tradição, seja ela Nagô, Banto ou Fon. A todas, meus respeitos!
   No tocante à saúde, nós, do Candomblé, sempre estivemos atentas para este tema. No dia a dia, deparamo-nos com situações onde temos que intervir através do conhecimento do poder curativo de várias plantas, como também dos rituais sagrados que existem em nossa tradição, com a finalidade de equilibrar o SER tanto física como mentalmente.
    Saúde, para nós, é estarmos sempre em equilíbrio com as forças da natureza. Quando este é quebrado, encontramos nos Orixás o poder para harmonizarmos. Este poder sagrado existe tanto para as questões de saúde como para vários problemas do cotidiano.
    Em nossa tradição, existem dois Orixás de grande relevância nas questões saúde/doença. Um dele é Ossaim, detentor do conhecimento das plantas, é com o seu axé que conseguimos detectar as ervas curativas. Ewe! Ewe! O outro é Omolú, [...] Ele tem o poder de curar.
   Quero aproveitar este momento, para chamar a atenção sobre uma doença pouco discutida, mas que está presente na população afro-descendente e em alguns brancos que possuem grau de parentesco com os negros, a Anemia Falciforme. Uma das características desta doença é sua variação clínica. Enquanto alguns pacientes apresentam uma sintomatologia de grande gravidade, sujeitos a inúmeras complicações, outros apresentam uma forma mais benigna.
    Faço aqui um apelo a todos[as] os[as] que estão engajados[as] em programas de saúde, para que procurem viabilizar os projetos relacionados a esta doença, já existentes e que ainda não foram desenvolvidos, como, por exemplo, o PAF (Programa de Anemia Falciforme)
  Nós mulheres [e homens] de Candomblé, também estamos preocupados com DSTs e a AIDS, devido a sua gravidade e importância epidemiológica. Ela está atingindo todas as pessoas, de todos os níveis socioeconômicos e orientação sexual, pois hoje é sabido que as mulheres heterossexuais e com parceiros fixos estão sendo contaminadas tanto quanto o grupo que antigamente denominava-se “grupo de risco”.
   Concluindo, quero ressaltar que a questão da mulher foi institucionalizada com a criação de programas de governo e de organizações não-governamentais (ONG’s), dedicados a melhorar as condições de saúde da mulher, apesar de alguns descompassos regionais devido às dificuldades de acesso principalmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros.
   Sabemos que ainda temos muito que conquistar é nós, mulheres [e homens] de Candomblé temos um papel muito importante nesta luta.
Que os Orixás nos Abençoem!
(Artigo retirado do Jornal Alafia – Jornal do Povo do Candomblé. Centro Baiano Anti-Aids – Quibanda – Dudu – Ano V. Nº 10 – Outubro a Novembro 2002, p. 08 e 09.)

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