(Fámilia da casa de Odé -MS- e amigos na casa de Xangô)
Ter a certeza de que a nação brasileira é formada com a participação de três grupos étnicos, ou seja, ameríndios, europeus e africanos isto já um ponto que não provoca divergências entre nós brasileiros. Porém, ao afirmamos que os grupos tanto ameríndios quanto africanos contribuíram enormemente com a maneira de louvar e ser do povo brasileiro, ainda é algo que causam incômodos a alguns ou muitos de nós. Visto que ainda é comum perceber a participação especialmente dos povos do continente africano apenas na culinária, capoeira, samba. Não que isso seja menor ou maior. Entretanto se faz necessário termos a percepção de que uma das grandes contribuições do povo africano foi sem sombra de dúvidas com o seu arcabouço religioso.
É inegável que a maneira de louvar do povo africano diferia em tudo da forma de louvar dos colonizadores europeus, seja português, espanhol, inglês, francês e holandês.
No caso brasileiro, os colonizadores portugueses eram de formação católica apostólica romana de tudo fizeram para converter o povo negro a sua fé. Porém, esses africanos que para cá vieram usando de astucia e perspicácia também de tudo fizeram para não entregar-se ao catolicismo. Mesmo batizado com nome de santo católico, buscou de formar camufladas continuar louvando e crendo em seus Orisás, Inkices e Voduns. Perceberam a fragilidade da doutrina católica e disfarçaram uma suposta conversão nos santos católicos para depois se organizarem-se nas irmandades negras.
Das irmandades negras a organização dos primeiros Ilês Asés no final do século XIX foi um passo, lógico que nem tudo foi um mar de rosas. Perseguições de forças militares, diversas formas de desrespeitos aos cultos afros, é o que se tem noticias pelo Brasil afora.
Porém, o que se percebe é que a custa de muita luta e inteligência do povo negro as religiões de matriz africana estão vivas e presente na cultura brasileira. Cumpre a nós religiosos/as e simpatizantes das religiões afro na atual conjuntura continuarmos a luta dos nossos/as ancestrais. Que buscaram antes de tudo preservar crenças milenares de sua terra natal em território brasileiro.
Hoje não precisamos mais disfarçar nossa fé e nossa forma de louvar, visto que a Constituição Federal de 1988, garante em seu artigo5º, Inciso VI que: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
Conclamamos a todos/as sacerdotes e sacerdotisas de matriz africana que faça de dos seus Ilés Asé além de espaço religioso, um ambiente de luta e resistência contra toda e qualquer forma de opressão e injustiça, e acima de tudo lugar de conscientização dos valores culturais dos nossos/as ancestrais negros/as.
Se valeu a luta dos/as nossos/as ancestrais escravizados/as nas terras brasileiras, hoje vale a nossa, por respeito e dignidade humana. Se no passado a luta não foi em vão, hoje nossa luta é por garantir a pratica do inciso VI da Constituição Federal do Brasil.
Entre outros fatos marcantes do mês de fevereiro dois chama atenção, um deles é o nascimento da antropóloga, intelectual, política, professora Lélia Gonzalez (1935). Seus escritos, simultaneamente permeados pelos cenários da ditadura política e da emergência dos movimentos sociais, são reveladores das múltiplas inserções e identificam sua constante preocupação em articular as lutas mais amplas da sociedade com a demanda específica dos negros e, em especial das mulheres negras. Os livros produzidos foram “Lugar de Negro” (1982) (com Carlos Hasenbalg), “Festas Populares no Brasil”. As demais referências da produção de Lélia Gonzalez são papers, comunicações, seminários, panfletos político-sociais, partidários, engajados, sempre de muita reflexão.
Seus escritos e palestras, atuando contra o racismo e outras formas de discriminação, contribuíram para a formação acadêmica e cidadã de muitos dos que com ela conviveram, considerando que atuou nas universidades brasileiras por mais de 30 anos, até seu falecimento. Em seus últimos dias, foi eleita, por reconhecimento de sua competência, chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Quando faleceu, aos 59 anos, ainda tinha muito a fazer, a escrever, a falar/comunicar/ensinar. (WWW.wikipedia.org)
Outro fato que marca este mês é morte de Carolina Maria de Jesus ocorrido no dia 14 de fevereiro de 1977. Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, interior de Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Estudou até o segundo ano primário. Migrou para São Paulo em 1947, indo morar na extinta favela do Canindé, na zona norte. Nessa cidade, trabalha como doméstica, não se adaptando, contudo, a esse tipo de trabalho. Passa a trabalhar como catadora de papel, trabalho que realiza até sua morte, em 1977. Carolina nunca se casou e teve três filhos. Até aqui, temos uma história que poderia ser a de qualquer outra mulher brasileira pobre: negra, semi-alfabetizada, favelada, como tantas que existem pelo Brasil afora, não fosse por um detalhe – a paixão de Carolina Maria de Jesus pela leitura e pela escrita. Carolina dividia seu tempo entre catar papel,cuidar dos filhos e escrever.
Em meados da década de 1960, o jornalista Audálio Dantas, ao visitar a favela do Canindé para escrever uma matéria sobre a expansão do local, conhece Carolina, que lhe entrega os manuscritos de seu diário. Surge então seu primeiro livro, Quarto de Despejo, livro-diário em que relata a fome cotidiana, a miséria, os abusos e preconceitos sofridos por ela, seus filhos e outros moradores da favela.
Quarto de Despejo foi em agosto de 1960 e editado oito vezes no mesmo ano; mais de 70 mil exemplares foram vendidos na época. Nos cinco anos seguintes, Quarto de despejo foi traduzido para 14 idiomas e alcançou mais de 40 países.
Além de Quarto de Despejo, Carolina também publicou Casa de Alvenaria (1961), Provérbios e Pedaços da fome (1963) e Diário de Bitita (publicação póstuma).
Outro traço particular de Carolina Maria de Jesus é a sua consciência política e social. Passagens de seus livros mostram que a escritora estava sempre a par do que acontecia não só em São Paulo, mas também em outros Estados, provavelmente por meio de notícias lidas em jornais que via nas bancas.
Apesar de todo o sucesso de seu primeiro livro, as publicações seguintes da autora não tiveram êxito, e Carolina caiu no esquecimento. Pobre, morreu na casa em que morava com o filho mais velho, no bairro de Parelheiros, em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. (http://www.acervos.ims.uol.com.br/)
A vida e os escritos dessas duas personalidades demonstra a obstinação de mulheres que sonharam, lutaram e tiveram consciência do seu papel em uma sociedade preconceituosa e racista. Que a vida dessas mulheres nos sirva de exemplo para continuarmos lutando um país mais justo onde todos/as sejam respeitados/as na sua forma de ser, pensar e agir.
O artigo deste mês intitulado Religiosidade Negra: Resistência Político-Cultural, retirado da obra Para Entender o Negro no Brasil de Hoje: História, Realidades, Problemas e Caminhos, de autora é de Kabengele Munanga & Nilma Lino Gomes no qual buscam de forma didática analisar as religiões de matriz afro como espaço de resistência político cultural no Brasil .
Já a lenda do mês nos faz refletir sobre a importância das ervas no contexto religioso afro, para tanto recorreu-se à obra de Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás, no qual esse autor descreve uma magnífica lenda do Orisá Osain para destacar o valor fundamental que as ervas e plantas exercem para os praticantes do Candomblé e para a farmacopéia tradicional. A referida lenda pode ser usada por professores/as de Ensino Fundamental e Médio para discutir questões ambientais em sala de aula.
Por fim, porém não menor importante postou-se um box, no qual destaca 10 Maneiras de Contribuir para Uma Infância sem Racismo. Dessa forma a Egbé Ìní Omòrisa Sàngó e a Associação Cultural Ébano Brasil quer abraçar a campanha desencadeada pela UNICEF na luta por infância sem racismo.
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