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MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

domingo, 1 de maio de 2011

LENDA DO MÊS:


POR QUE SE ENTERRAM OS MORTOS

   Naquele tempo, os homens [e mulheres] não enterravam seus defuntos. Cada um que morria era enrolado em panos e seus corpos eram depositados aos pés de grandes arabás, árvores sagradas, muito comuns na África.
    Havia, então, um homem casado com uma bela mulher a quem amava de paixão.
    - Assim como o verão traz o calor e o inverno o frio, tua presença traz alegria à minha vida e ao meu coração – dizia ele, revelando todo o seu sincero amor à sua companheira.
Mas, infelizmente, o sentimento que o bom homem dedicava à sua querida esposa não era correspondido.
     A mulher, pérfida e fingida, desprezava profundamente seu marido e mantinha relações com um homem da vizinhança por quem se apaixonara e se entregara de corpo e alma.
-Temos que nos livrar da desagradável presença de meu marido presença do meu marido! – dizia ela ao amante, que, sendo de boa índole, não tinha coragem de matar o rival, como era desejo da adúltera, que, por sua vez, também não queria manchar as mãos com sangue do esposo.
    Um dia, tentando solucionar o problema, a mulher pediu a ajuda de Exu, que lhe deu a seguinte orientação.
    Um dia, tentando solucionar o problema, a mulher pediu a ajuda de Exu, que lhe deu a seguinte orientação:
- Se queres viver feliz e livre da presença do teu marido, deves simplesmente fingir-se de morta. Para Ito, basta que tomes um pouco deste remédio. Algumas horas depois, desfalecerás. Todos os sintomas da morte surgirão em teu corpo, mas, no dia seguinte, despertarás do sono profundo que te tomará. Agindo normalmente, teu marido irá enrolar teu corpo em panos perfumados e abandoná-los nos pés do arabá, de onde teu amante poderá te resgatar, levando-te definitivamente para sua casa, onde deverás permanecer escondida para sempre – disse Exu, entregando à mulher uma pequena cabaça cheia de uma poção mágica.
-Agora vai! – ordenou Exu. – Antes de tomares a medicina, deves sacrificar, em minha honra, um bode e dois galos, para que eu te proteja durante o sono profundo em que cairás.
     De posse da medicina, a mulher partiu excitada, para a casa do amante, a quem narrou todo plano. Sua pressa era tanta que voltou logo para casa e, sem oferecer o sacrifício exigido por Exu, sorveu, de uma só vez, todo conteúdo da cabaça.
Imediatamente, sentiu-se desfalecer e um estertor, semelhante em tudo ao da morte, tomou seu corpo.
     Ao ver a mulher agonizante, o pobre marido saiu em busca de socorro e, em desabalada carreira pela estrada, encontrou Exu.
- Ajuda-me, Senhor! Minha mulher está morrendo e nada posso fazer para salvá-la – pediu o homem desesperado.
- Morrendo? – perguntou Exu. – Como morrendo, se nem sequer ofereceu o sacrifício?
- O que disseste? – perguntou o homem sem nada entender.
- Nada! – respondeu Exu. – Eu não disse nada! Conduz-me depressa à tua casa. Sou médico e, quem sabe, chegaremos a tempo de salvá-la!
     E correndo, lá forma os dois em direção à casa onde a mulher, sob o efeito do remédio, já entrara em profundo estado cataléptico.
- Tarde demais! – exclamou Exu fingindo constrangimento. – Tua mulher já ETA morta. Mas deixa-me examiná-la para sabermos o que provocou seu falecimento tão repentino. Afinal de contas era jovem e forte, pelo que posso presumir olhando seu cadáver.
     Depois de fingir detalhado exame no corpo da mulher, Exu disse ao choroso marido:
- Tua mulher morreu de uma doença terrivelmente contagiosa que, sem qualquer sintoma, mata mais depressa que um raio. Trata-se da segurança de todo o povoado, além da tua própria segurança. Temos que enterrá-la imediatamente, sem velório  e nem rituais.
     Obediente, o pobre homem providenciou alguns lençóis nos quais o corpo foi enrolado e, com ajuda de Exu, transportou sua mulher até o pé de um arabá onde a enterrou num buraco bem fundo.
     No dia seguinte, sem saber o que havia ocorrido, o amante foi ao encontro da mulher e, chegando aos pés da árvore, deparou-se com uma sepultura coberta de flores.
   Ao tomar conhecimento do fato, enlouqueceu, passando a ser perseguido pelo egun de sua amante.
    E foi assim [...], que Exu inventou o costume de enterrarem-se os cadáveres.
    Depois disto, nunca mais ninguém ousou a brincar de defunto; com medo, provavelmente, de que Exu, só de molecagem, enfiasse dentro de um buraco na terra.
(MARTINS, Adilson. Lendas de Exu. Pallas: 2008. p. 120 a 122)

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