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MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A palavra: ação e comunicação entre os povos africanos de cultura yoruba

O idioma
    O idioma falado pelos iorubás é o iorubá, com variações de dialeto - egba, ekiti, ibadan, ife, ijebu, ijesa, ikale, ilaje, ondo, owo e oyo, por exemplo. De fato, cada nome destes refere-se simultaneamente a uma cidade, um dialeto e um agrupamento humano. Egba refere-se à cidade de Abeokuta, capital do estado de Ogun. Os egba, todos reconhecidos como descendentes de Oranyan, viviam principalmente em povoados e aldeias independentes umas das outras. Viram-se obrigados, em virtude das guerras, a unirem seus 153 povoados. E formaram Abeokuta.
(...)
    O idioma iorubá integra o grupo lingüístico nigero-congolês e estima-se que seja falado por cerca de 25 milhões de pessoas. Este grupo lingüístico compõe, juntamente com o nilosaariano e o afro-asiático, o conjunto de famílias lingüísticas existentes na Nigéria. (Olaniyan, 1985)

Tradição Oral: importância e poder da palavra
    A linguagem cotidiana dos iorubás, extremamente rica em metáforas, abrange um imenso conjunto de lendas, contos, fábulas, vigorosos ditados, provérbios, relatos mitológicos e históricos. A tradição oral realiza, conforme afirma Vansina (1982), dois níveis de registro: um consciente - registro de acontecimentos passados (crônicas orais de um reino ou genealogias de uma sociedade segmentária) e o outro, inconsciente - literatura oral em todas suas formas: epopéias; poemas, que incluem canções, cantigas e cânticos; fórmulas, que incluem provérbios, charadas, orações e genealogias e narrativas, compreendendo estas a maioria das mensagens históricas conscientes.
    A tradição oral é, entretanto, além desse imenso conjunto literário, a grande escola da vida. Baseada numa concepção de homem e de universo que confere à Palavra origem divina, nela reconhece um poder sagrado, criador, capaz de preservar e destruir. Hampate Bâ (1982), referindo-se às sociedades orais, aponta para o fato de que em tais sociedades o vínculo entre o homem e a palavra é muito forte: o homem permanece ligado à palavra que profere.  Sendo a palavra uma força fundamental emanada do próprio Ser Supremo, possui caráter sagrado e a ela vinculam-se forças ocultas.   A tradição africana concebe a fala como um dom de Deus: divina no sentido descendente e sagrado no sentido ascendente materializa ou exterioriza as vibrações das forças.
      A fala humana, eco da fala divina, pode colocar em movimento forças latentes nos seres e objetos, como um homem que levanta e se volta ao ouvir seu nome. É, por essa razão, o grande agente ativo da magia africana (p. 186).   Sendo o universo visível concebido e sentido como a concretização ou o envoltório de um universo invisível constituído de forças em perpétuo movimento, a ação mágica (manipulação das forças) geralmente almeja restaurar o equilíbrio perturbado e restabelecer a harmonia.
      Naturalmente, o poder da palavra de um homem depende de como ele utiliza sua fala. O poder criador e operativo da palavra encontra-se em relação direta com a conservação ou com a ruptura da harmonia no homem, no mundo que o cerca e na relação entre o homem e o mundo. Por isso a mentira é considerada uma verdadeira lepra moral. A língua que falsifica a palavra vicia o sangue daquele que mente. Aquele que corrompe sua palavra corrompe a si próprio. Quando alguém pensa uma coisa e diz outra, separa-se de si mesmo, rompendo a unidade sagrada, reflexo da unidade cósmica. Cria desarmonia ao redor de si e em seu próprio interior. Cuida-te para não te separares de ti mesmo. É melhor que o mundo fique separado de ti do que tu separado de ti mesmo. Esta relação homem/palavra, em que a mentira não tem lugar, é particularmente enfatizada quando se trata de transmitir palavras herdadas de ancestrais ou de pessoas idosas, na corrente de transmissão oral. O tradicionalista é disciplinado interiormente, preparado para jamais mentir, considerado um homem bem equilibrado, senhor das forças que o habitam. Ao seu redor as coisas se ordenam e as perturbações se aquietam.
  Disciplinar a palavra significa também não utilizá-la imprudentemente. Se constitui a exteriorização das vibrações de forças interiores, inversamente, a força interior nasce da interiorização da fala. O grau de evolução de um adepto no Komo, por exemplo, não é medido pela quantidade de palavras que conhece e sim pela conformidade de sua vida a tais palavras. (Hampate Bâ, 1982)
      Assinala Leite (1992) a existência de duas grandes modalidades da palavra: a exotérica, de domínio mais extenso e comum, ligada aos processos menos complexos de socialização e a esotérica, de domínio restrito aos nela iniciados, que atinge os mais elevados níveis de conhecimento e abstração.
     Os iorubás consideram a palavra sete vezes mais poderosa que qualquer rito ou preparado mágico. Consideram seu poder criativo não-restrito ao momento da Criação mas passível de ação atual. Uma vez pronunciada desencadeia resultados por vezes imprevisíveis. Conecta a mente humana à matéria, permitindo a ação daquela sobre esta. (Texto adaptado da obra: RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana no Brasil- Os iorubas. Salvador-BA, Ed. Oduduwa,1996. p 45 e 47).

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