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Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS AFRICANAS NAS TRADIÇÕES BRASILEIRAS


Por: Ronilda Iyakemi Ribeiro
   Bastide (1971) traçou uma geografia das religiões africanas no Brasil. De um modo geral, nesse conjunto identificam-se duas grandes vertentes: a que deu origem aos candomblés e xangôs e outra que originou os candomblés de caboclo e candomblés de angola. No contexto urbano, sujeitos a novas influências do catolicismo e do espiritismo de Allan Kardec, surgiu a umbanda.
               O termo candomblé, usado para designar tradições e cultos religiosos de nações do grupo sudanês, designava inicialmente danças religiosas e profanas. A denominação xangô, usada em Pernambuco, nas referências ao local de culto e aos próprios rituais, aponta para a importância desse orixá naquela região. Vejamos algumas particularidades do Candomblé e da Umbanda.

Candomblé

   Desde o início da escravidão, africanos de distintas origens étnicas uniram-se para realizar cultos religiosos e rituais mágicos que dariam origem ao candomblé. Essa denominação origina-se do termo Kandombile (culto e oração). Segundo Carneiro (1969), somente em 1830 o candomblé surgiria oficialmente no Engenho Velho, na Bahia. O Engenho Velho, fundado por três mulheres negras - Iyá Dêtá, Iyá Kalá e Iyá Nassô, viria a dividir-se posteriormente em função de lutas pelo poder.
   Proibido pelas autoridades civis e religiosas, sua prática tornou-se oculta, provocando aumento no preconceito em relação a ele. A identificação das nações de candomblé baseia-se no reconhecimento do idioma utilizado: nomes dos orixás, alimentos e roupas, cânticos rituais e histórias apresentando elementos do idioma ewe, indicam tratar-se de nação jeje; se em vez de ewe, usam-se elementos do iorubá, sua identidade é kêtu e nagô. Segundo Lody (1987), as nações foram organizadas em: Kêtu-nagô - iorubá; Jexá ou Ijexá - iorubá; Jeje - fon; Angola - banto; Congo -banto; Angola-Congo - banto; Caboclo - modelo afro-brasileiro.
    O termo jeje-nagô indicador da união de elementos iorubás e fon, refere-se a um tipo de candomblé mais próximo dos ideais africanos. Como variante desse termo temos o nagô vodum, tentativa de união entre cultos aos orixás e culto aos voduns. Possuímos excelentes estudos de caráter etnográfico e histórico sobre o candomblé. Não tendo por objetivo deter-me em suas particularidades no presente contexto, remeto os leitores interessados por esse tema ao trabalho de outros pesquisadores. A respeito da história do Candomblé constituem boas fontes, entre outras, os trabalhos de Carneiro (1969) - Candomblés da Bahia; Lody (1987) - Candomblé. Religião e Resistência Cultural; Verger (1954, 1957, 1968), particularmente o Notes sur le Culte des Orisa et Vodun à Bahia, la Baie de tous les Saints, au Brésil et à l'ancienne Côte des Esclaves en Afrique (1957) e Bastide (1971 e 1978) - As religiões africanas no Brasil e O candomblé da Bahia (Rito Nagô) . Sobre o candomblé na Bahia, além das obras já citadas, constituem excelentes trabalhos os de Juana Elbein dos Santos (1986), particularmente Os Nagô e a Morte: Pàdè, Àsèsè e o Culto de Égun na Bahia e o documento histórico e etnográfico do Ile Ase Opó Àfonjá, intitulado Meu tempo é agora de Maria Stella de Azevedo Santos (1993), a Mãe Stella de Osoosi. A respeito do candomblé em São Paulo, Reginaldo Prandi (1991), reúne dados em Os Candomblés de São Paulo. Entre os trabalhos significativos mais recentes incluem-se O segredo das folhas. Sistema de Classificação de Vegetais no Candomblé Jêje-Nagô do Brasil, de Barros (1993) e A Galinha d'Angola. Iniciação e Identidade na Cultura Afro-Brasileira de Vogel e colaboradores (1993).

Umbanda
    Na Umbanda ocorre, conforme mencionado acima, o encontro de elementos de múltiplas origens étnicas e religiosas. Num altar ou congá encontramos imagens cristãs, budistas, tradicionais africanas, além da representação de personagens como índios, pretos-velhos, marinheiros, ciganos, crianças (ere) etc. As orações incluem cânticos em português aos orixás e rezas cristãs como o Pai Nosso e a Ave Maria. No dizer de Magnani (1986:13), a umbanda certamente não é uma espécie de degeneração de antigos cultos africanos ou do espiritismo Kardecista e sim o resultado de um processo de reelaboração, em determinada conjuntura histórica, de ritos, mitos e símbolos que adquirem novos significados no interior de uma nova estrutura.
    É sabido que os africanos escravizados, proibidos de expressar suas crenças religiosas consideradas práticas de feitiçaria, podiam, entretanto, cantar e dançar músicas profanas.
    Associados em nações, batuques, confrarias, cerimônias mortuárias, toleradas pelo regime escravista, aí encontraram espaço para a preservação e transformação de suas crenças e de seus mitos expressos em ritos. Chamados, simultaneamente, a organizarem-se em confrarias e irmandades católicas, como a dos Homens Pretos, por exemplo, podiam cultuar suas próprias divindades ao prostrarem-se diante de ícones cristãos, construindo correspondências entre eles: Santa Bárbara, protetora dos homens nas tempestades, relacionou-se a Oya, senhora dos ventos e tempestades; São Jorge, vencedor do dragão infernal, relacionou-se a Ogum, guerreiro, senhor dos metais; Sant'Ana, a avó de Jesus associou-se a Nanã Buruku, um dos orixás mais antigos da tradição iorubá; Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada num rio, foi associada a Oxum, senhora das águas doces.
       Nas cerimônias de congos e angolas, impossibilitados de render homenagem a seus ancestrais, passaram a render culto a espíritos-símbolos dos antepassados: Pai Joaquim de Angola, Pai Benedito, Pai João, Maria Conga...
        A chamada macumba surgiu no Rio de Janeiro por volta da segunda metade do século XIX: a cabula banto assimilou, sem o suporte de uma mitologia ou doutrina capaz de integrar seus elementos, a estrutura dos cultos nagôs e alguns orixás, caboclos catimbozeiros, práticas mágicas européias e muçulmanas, santos católicos e influências do Espiritismo de Kardec.
         Desse complexo surgiria a Umbanda, na década de 1920, também no Rio de Janeiro: profissionais liberais, militares e funcionários públicos, advindos do kardecismo, migraram para esses cultos, impondo-lhes nova estrutura e desencadeando um processo de institucionalização (Magnani, 1986). Leitores particularmente interessados por esse tema podem obter informações fidedignas nos trabalhos de Magnani (1986) - Umbanda; Birman (1983) - O que é Umbanda? e Ortiz (1978) - A morte branca do feiticeiro negro, entre outros. ((RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana no Brasil- Os iorubas..p. 111 a 113) Salvador-BA, Ed. Oduduwa, 1996

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