Boas Vindas!!

MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

quarta-feira, 2 de março de 2011

ÁGUAS DE MARÇO


Babaloorisá João Bosco D’Sangó
Babaloorisá João Bosco D’Sangó recebendo o Prêmio Macário.
O mês de março é marcado pelas comemorações do Dia Internacional da Mulher (08 de março) por isso a Egbé Oní Omó Orisá Sango e o Centro Cultural Ébano Brasil, através deste blog aproveita para aventar algumas discussões sobre a presença da mulher nos espaços de poder especialmente nas religiões de matriz africana, para tanto apresentamos dois artigos que poderão nortear tal assunto. O primeiro intitulado Mulher, Candomblé e Saúde, escrito pela Ialorisá Lúcia D’Osum, como o próprio título, alude sobre a saúde da população negra, especialmente da mulher, bem como discute a importância da harmonia corpo/espírito no Candomblé. E o segundo, Mulheres Negras Lembrando nossas Pioneiras, encontrado no site Portal Geledés, o artigo versa sobre a luta das mulheres no Brasil e no mundo, ressaltando ações de algumas iyalorisás para destacar o Candomblé como religião de resistência cultural afrobrasileira.
Aproveitamos a oportunidade para destacar que o início da segunda década do século XXI é marcado por um fato de profunda importância para o nosso país, a saber, a posse da primeira mulher a administrar esta nação. E pensar que o direito de voto feminino só foi conquistado em 1934!!!! É inegável que a presença de Dilma Rousseff na chefia do poder executivo nacional representa um avanço a todos nós brasileiros/as.
Este mês é assinalado pelo nascimento de três importantes personalidades negras de profunda acuidade na luta negra em nosso país. Um deles é o escritor Antônio Frederico de Castro Alves, nascido no dia 14 de março de 1847. Considerado um dos mais brilhantes poetas românticos brasileiros, é chamado de "cantor dos escravos" pelo seu entusiasmo diante das grandes causas da liberdade e da justiça - a Independência na Bahia, a insurreição dos negros de Palmares, o papel da imprensa, e acima de tudo isso a luta contra a escravidão. O poeta nasceu na fazenda Cabaceiras, próxima à vila de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia. Era filho do médico Antônio José Alves e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando ele tinha apenas 12 anos. Por volta de 1853, mudou-se com a família para Salvador e lá estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa. Ainda adolescente, já demonstrava vocação para a poesia. Suas poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como "Poeta dos Escravos". Destacamos um entre muitos escritos desse poeta, a poesia Saudação a Palmares para notarmos a genialidade do Cancioneiro dos Escravos. (www.educacao.uol.com.br)
Outra personalidade nascida em março (Franca-SP,14/1914) é Abdias do Nascimento, ex-político e ativista social brasileiro. É um dos maiores defensores da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil, intelectual de grande importância para a reflexão e atividade sobre a questão do negro na sociedade brasileira. Teve uma trajetória longa e produtiva, indo desde o movimento integralista, passando por atividade de poeta (com a Hermandad, grupo com o qual viajou de forma boêmia pela América do Sul), até ativista do Movimento Negro, de ator (criou em 1944 o Teatro Experimental do Negro) e de escultor. Após a volta do exílio (1968-1978), insere-se na vida política (foi deputado federal de 1983 a 1987 e senador da República de 1997 a 1999), além de colaborar fortemente para a criação do Movimento Negro Unificado – MNU – (1978). Em 2006, em São Paulo, criou o dia 20 de Novembro como o dia oficial da consciência negra. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília. É autor de vários livros: "Sortilégio", "Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos", "O Negro Revoltado", entre outros. Foi Professor Benemérito da Universidade de Nova York e doutor Honoris Causa pelo Estado do Rio de Janeiro, grande militante no combate à discriminação racial no Brasil. Foi casado com Maria de Lurdes Vale Nascimento. Mas tarde casou-se com Genilda Cordeiro. Depois com a atriz Léa Garcia, com quem teve dois filhos, e pela quarta vez com a norte-americana Elizabeth Larkin Nascimento, com quem teve um filho. (www.wikipedia.org)
E a teceira personalidade nascida em março, 25-1920, e que merece destaque neste blog é o jornalista e educador Aristides Barbosa. Um dos nomes que representaram a construção de uma marcante ação política dos pensadores negros do século passado. Aristides Barbosa, assim como José Correia Leite e Francisco Lucrécio foram alguns nomes que compuseram um movimento de mobilidade política e cultural: a Frente Negra Brasileira. (www.palmares.gov.br) Participando no regional da Frente Negra e nos bailes patrocinados pelas Rosas Negras, comissão feminina da entidade. Nos anos 30, freqüentou o Clube Negro de Cultura Social, assim como as sociedades recreativas Marujos dos Lavapés, Som de Cristal e 28 de Setembro. Para Barbosa, a FNB foi a única organização negra da cidade que, em 1937, lançou um nome para disputar eleições, que foi a candidatura de Raul Joviano do Amaral. A liberdade partidária foi suprimida por um golpe de Estado liderado pelo presidente Getúlio Vargas, em 10 de novembro de 1937, e a Frente Negra, que tinha conquistado o seu registro como partido político em 1936, encerra sua breve experiência partidária, desarticulando-se. Aristides Barbosa afirma que a FNB foi fechada por pretender participar da gestão do poder público e não por preconceito racial.
A organização intitulou-se naquele momento de União Negra Brasileira (UNB) e, posteriormente, foi denominada de Clube Recreativo Palmares sobrevivendo até a década de 50. Barbosa, em 1946, fundou juntamente com Osvaldo Pereira Barbosa, seu pai, Arnaldo de Camargo, Ovídio P. Santos e Argemiro Dias Lima, o jornal Novo Horizonte. (www.assis.unesp.br)
Estes personagens com seus feitos e a seu tempo devem ser lembrados ao discutir implementação da Lei 10.639/03 no ambiente escolar.
Merece destaque também o dia 21 de março Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em memória das vítimas do massacre de Shapeville na África do Sul (1960). Óbvio que não só este dia, mas em nosso cotidiano devemos lutar contra toda e qualquer forma de discriminação, especialmente no que diz respeito à intolerância religiosa contra nós praticantes de Candomblé.
No box lenda do mês trazemos uma lenda que destaca o papel primordial das Iabás ( Orisás femininos) na tradição cultural religiosa yorubá.
Enfatizamos o Calendário de Atividades do mês de março da Egbé Oní Omó Orisá Sangó:
Dia – 02 – Quarta Feira (20 horas) Amalá;
Dia – 05 - Sábado (Das 15 às 17 horas) Atendimento Público;
Dia – 12 – Sábado (Das 15 às 17 horas) Estudo e Debate sobre a dinâmica do Candomblé de Nação Ketu no Brasil;
Dia – 19 – Sábado (Das 15 às 17 horas) Estudo e Debate sobre a dinâmica do Candomblé de Nação Ketu no Brasil;
Finalizando apresentamos a poesia de Castro Alves Saudação a Palmares. Esperamos que os escritos deste mês possam contribuir de alguma forma com a compreensibilidade do Candomblé, como com o processo de implementação da Lei 10.639/03 na educação brasileira.
A todos/as desejamos uma ótima e proveitosa leitura.

MULHER, CANDOMBLÉ E SAÚDE

Ialorixá Lúcia D’Oxum
       Desde os primórdios, as mulheres de todas as etnias vêm lutando por um lugar de destaque na sociedade em quem vivem. Isto está bem evidenciado nas religiões afro. Ao contrário das outras religiões, no Candomblé, a mulher é a grande sacerdotisa.
    Para nós, a explicação deste fato está na própria religião. Apesar de também existirem Babalorisás, as mulheres, segundo algumas Iyalorisás, têm mais Asé. Nas culturas africanas, de onde o Candomblé se originou, o poder político e religioso era do homem. Aqui, [no Brasil] houve uma troca de poder entre os sexos. As negras foram alforriadas antes dos homens. Aí então, conseguiram entrar no mercado de trabalho como doceiras, lavadeiras, cozinheiras, etc. Elas tornaram-se chefes de suas famílias. Várias chegaram a comprar a liberdade de seus companheiros antes mesmo da abolição.
     Respeitadas na comunidade negra e com maior poder econômico do que o homem, elas foram também as primeiras a abrir terreiros [templos] e assumir papéis de relevância na hierarquia sacerdotal. Isto se deu mais ou menos em meados do século XIX.
    Este poder feminino dentro dos cultos afros se mantém até hoje. Os terreiros mais famosos do Brasil estão nas mãos de mulheres e devem continuar assim por bastante tempo.
    Quando falamos em poder feminino, não poderíamos jamais de esquecer três valorosas negras: Ia Nassô, Ia Detá, Ia Kalá, que, com determinação e coragem, conseguiram, após enfrentarem o preconceito cruel da época, organizar e instituir a vertente da religião africana conhecida como Candomblé, que se tornou símbolo de sobrevivência e resistência de um povo que foi arrancado estupidamente de sua Terra Mãe.
    Também não poderíamos esquecer as atuais Iyalorixás, famosas ou não, que continuam na luta pela continuação de nossa tradição, seja ela Nagô, Banto ou Fon. A todas, meus respeitos!
   No tocante à saúde, nós, do Candomblé, sempre estivemos atentas para este tema. No dia a dia, deparamo-nos com situações onde temos que intervir através do conhecimento do poder curativo de várias plantas, como também dos rituais sagrados que existem em nossa tradição, com a finalidade de equilibrar o SER tanto física como mentalmente.
    Saúde, para nós, é estarmos sempre em equilíbrio com as forças da natureza. Quando este é quebrado, encontramos nos Orixás o poder para harmonizarmos. Este poder sagrado existe tanto para as questões de saúde como para vários problemas do cotidiano.
    Em nossa tradição, existem dois Orixás de grande relevância nas questões saúde/doença. Um dele é Ossaim, detentor do conhecimento das plantas, é com o seu axé que conseguimos detectar as ervas curativas. Ewe! Ewe! O outro é Omolú, [...] Ele tem o poder de curar.
   Quero aproveitar este momento, para chamar a atenção sobre uma doença pouco discutida, mas que está presente na população afro-descendente e em alguns brancos que possuem grau de parentesco com os negros, a Anemia Falciforme. Uma das características desta doença é sua variação clínica. Enquanto alguns pacientes apresentam uma sintomatologia de grande gravidade, sujeitos a inúmeras complicações, outros apresentam uma forma mais benigna.
    Faço aqui um apelo a todos[as] os[as] que estão engajados[as] em programas de saúde, para que procurem viabilizar os projetos relacionados a esta doença, já existentes e que ainda não foram desenvolvidos, como, por exemplo, o PAF (Programa de Anemia Falciforme)
  Nós mulheres [e homens] de Candomblé, também estamos preocupados com DSTs e a AIDS, devido a sua gravidade e importância epidemiológica. Ela está atingindo todas as pessoas, de todos os níveis socioeconômicos e orientação sexual, pois hoje é sabido que as mulheres heterossexuais e com parceiros fixos estão sendo contaminadas tanto quanto o grupo que antigamente denominava-se “grupo de risco”.
   Concluindo, quero ressaltar que a questão da mulher foi institucionalizada com a criação de programas de governo e de organizações não-governamentais (ONG’s), dedicados a melhorar as condições de saúde da mulher, apesar de alguns descompassos regionais devido às dificuldades de acesso principalmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros.
   Sabemos que ainda temos muito que conquistar é nós, mulheres [e homens] de Candomblé temos um papel muito importante nesta luta.
Que os Orixás nos Abençoem!
(Artigo retirado do Jornal Alafia – Jornal do Povo do Candomblé. Centro Baiano Anti-Aids – Quibanda – Dudu – Ano V. Nº 10 – Outubro a Novembro 2002, p. 08 e 09.)

MULHERES NEGRAS LEMBRANDO NOSSAS PIONEIRAS


     A luta das mulheres adquiriu diferentes perfis em nossa história dadas as diferenças de inserções sociais determinadas pelas origens raciais e étnicas das mulheres brasileiras. Em comum elas guardavam o desejo de liberdade. Para as brancas, a luta contra o jugo patriarcal; para as negras, a luta contra o jugo colonial, a escravidão e o racismo que lhe correspondeu. É de Luiza Mahin que vem um dos brados mais fortes. Inteligente e rebelde, sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX. Luiz Gama, seu filho, abolicionista, herdeiro de sua coragem e luta pela liberdade, escreveu sobre a mãe: ‘‘Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã''.
     Eram dessa mesma têmpera as grandes Iyalorixás. Uma estirpe de notáveis lideranças religiosas em que se destacam Yya Nassô, Mãe Aninha, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Senhora, entre outras. Mulheres negras que foram reverenciadas no livro “A Cidade das Mulheres” (1932), da antropóloga e pesquisadora norte-americana Ruth Landes, para quem a mulher negra ‘‘era no Brasil uma influência modernizadora e enobrecedora. Economicamente, tanto na África como durante a escravidão no Brasil, contara consigo mesma e isso se combinava com a sua eminência no candomblé para dar um tom matriarcal à vida familiar entre os pobres. Era um desejável equilíbrio para o rude domínio dos homens em toda a vida latina. Observou que as mulheres do candomblé jamais se prostituíam, mesmo quando pobres. Que eram livres no amor, mas não o comercializavam. Eram seres humanos bem desenvolvidos na época em que o feminismo levantava a voz pela primeira vez no Brasil''.
       A desumanização produzida pelo racismo e a escravidão não puderam sufocar a ânsia de conhecimento e de expressão de Maria Firmina dos Reis, maranhense de São Luís, bastarda e negra, nascida em 1825. É considerada a primeira romancista brasileira. Seu livro Úrsula é de 1859 e pode ser também considerado o primeiro romance abolicionista escrito por uma brasileira. Até hoje em Guimarães (MA), cidade em que floresceu, ‘‘a uma mulher inteligente e instruída chamam Maria Firmina''!
     Respondendo ao mesmo chamado interior, manifesta-se Auta de Souza (1876-1901), nascida em Macaíba, Rio Grande do Norte, de família próspera. Versejando em português e francês, Auta passou a colaborar na melhor imprensa do seu estado antes de completar 20 anos. Seu livro O Horto, publicado em 1901, prefaciado por Olavo Bilac, foi elogiado pela crítica e lido com avidez tanto por intelectuais como pelo povo, que passou a repetir muitos de seus versos sob a forma de cantigas. Foi considerada por Otto Maria Carpeaux a mais alta expressão do nosso misticismo.
         Há 70 anos as mulheres brasileiras conquistaram o direito do voto. Um marco na trajetória de luta pela eqüidade de gênero e ampliação do direito à participação política. Entre essas pioneiras, está Antonieta de Barros. Normalista, fundou em 1922 o curso ‘‘Antonieta de Barros'', com o objetivo de combater o analfabetismo, segundo ela, ‘‘impedimento de gente ser gente''. Também jornalista e escritora, foi a primeira mulher negra eleita para a Assembléia Legislativa de seu estado, Santa Catarina (1934-37), pelo Partido Liberal catarinense.
     Maria Brandão dos Reis, nascida na Chapada Diamantina em 1900, foi militante política do Partido Comunista por influência da Coluna Prestes. Teve destacada atuação na ‘‘Campanha da Paz'', organizada pelo PCB em 1950. Obteve o prêmio de Campeã da Paz, que lhe valeu o direito de ir a Moscou receber a Medalha da Paz. Isso não se deu porque foi preterida por um jovem intelectual, que ali se embriagou e caiu no rio Volga. Maria Brandão jamais perdoou o Partido Comunista pelo desrespeito e indiferença declarando: “Sou preta e ignorante, mas esse papelão eu não faria.”(encontrado em http://www.geledes.org.br, em 02/02/2011).

LENDA DO MÊS


Logo que o mundo foi criado, todos os orixás vieram para a Terra e começaram a tomar decisões e dividir encargos entre eles, em conciliábulos nos quais somente os homens podiam participar.
Oxum não se conformava com essa situação. Ressentida pela exclusão, ela vingou-se dos orixás masculinos. Condenou todas as mulheres à esterilidade, de sorte que qualquer iniciativa masculina no sentido da fertilidade era fadada, ao fracasso. Estavam muito alarmados e não sabiam o que fazer sem filhos para criar nem herdeiros para deixar suas posses, sem novos braços para criar novas riquezas e fazer as guerras e sem descendentes para não deixar morrer suas memórias.
Oludumare soube então, que Oxum fora excluída das reuniões. Ele aconselhou os orixás a convidá-la, e às outras mulheres, pois sem Oxum e seu poder sobre a fecundidade nada poderia ir adiante.
Os orixás seguiram os sábios conselhos de Olodumare e assim suas iniciativas voltaram a ter sucesso. As mulheres tornaram a gerar filhos e a vida na Terra prosperou. (PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Cia das Letras. São Paulo-SP, 2001)

SAUDAÇÕES À PALMARES


Castro Alves
NOS ALTOS cerros erguido
Ninho d'águias atrevido,
Salve! — País do bandido!
Salve! — País do jaguar!
Verde serra onde os palmares
— como indianos cocares —
No azul dos colúmbios ares
Desfraldam-se em mole arfar!...
Salve! Região dos valentes
Onde os ecos estridentes
Mandam aos plainos trementes
Os gritos do caçador!
E ao longe os latidos soam...
E as trompas da caça atroam...
E os corvos negros revoam
Sobre o campo abrasador!...
Palmares! a ti meu grito!
A ti, barca de granito,
Que no soçobro infinito
Abriste a vela ao trovão.
E provocaste a rajada,
Solta a flâmula agitada
Aos uivos da marujada
Nas ondas da escravidão!
De bravos soberbo estádio,
Das liberdades paládio,
Pegaste o punho do gládio,
E olhaste rindo p'ra o val:
"Descei de cada horizonte...
Senhores! Eis-me de fronte!"
E riste... O riso de um monte!
E a ironia... de um chacal!...
Cantem Eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços;
E beijem os férreos laços,
Que não ousam sacudir...
Eu canto a beleza tua,
Caçadora seminua!...
Em cuja perna flutua
Ruiva a pele de um tapir.
Crioula! o teu seio escuro
Nunca deste ao beijo impuro!
Luzidio, firme, duro,
Guardaste p'ra um nobre amor.
Negra Diana selvagem,
Que escutas sob a ramagem
As vozes — que traz a aragem
Do teu rijo caçador!...
Salve, Amazona guerreira!
Que nas rochas da clareira,
Aos urros da cachoeira —
Sabe bater e lutar...
Salve! — nos cerros erguido —
Ninho, onde em sono atrevido,
Dorme o condor... e o bandido!...
A liberdade... e o jaguar!

Fazenda de Santa Isabel, agosto de 1870.

(Encontrado em www.projetomemoria.art.br, em 03 de fevereiro de 2011)