Boas Vindas!!

MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pensar, Louvar e Agir


Babálòórisá João Bosco D’Sangó


Há coisas que são difíceis de compreender neste mundo, como também há coisas que não se pode admitir em pleno século XXI. Entre outras coisas, é impossível admitir a falta de respeito à forma de pensar agir e louvar de determinado grupo social. Como já referido em escritos de meses anteriores, em se tratando de século XXI, estamos vivendo momento importante para a história da humanidade, visto que em todos os cantos do planeta Terra falasse em respeito à diversidade. E o Brasil, como fica nesse contexto?

            Em um país com uma diversidade cultural imensa como é o nosso, não deveria ter lugar para intolerâncias religiosas, visto que a história e cultura africana e afrobrasileira esta presente em todos os cantos e rincões desta nação.

            Não da para admitir mais em nossas escolas atitudes de professores (as), como a desta descrita no artigo intitulado: “Intolerância Religiosa afeta autoestima de alunos (as) e dificulta aprendizagem”.

            Se existe professores (as) que ainda insistem em fazer de suas salas de aulas uma extensão do púlpito de sua igreja é porque também existem pais e responsáveis que fecham os olhos para as discriminações e preconceitos religiosos que sofrem seus filhos e filhas no ambiente escolar.

            Cremos que seja hora de nós religiosos (as) de matriz africana, especialmente das diversas Nações de Candomblé, sairmos do ostracismo, em defesa dos nossos (as) e filhas (as) em idade escolar. É impossível se calar diante de tanta injustiça que cotidianamente sofrem alunos (as) praticamente de religiões de matriz africana. Pois, ao calarmos estamos reforçando o preconceito e a discriminação contra nossas crianças, jovens e adultos que estão matriculados nos variados níveis educacionais nas escolas brasileira.

             Asseguramos que é muito fácil e até certo ponto cômodo batermos no peito e dizermos que somos de Candomblé dentro dos espaços de nossos templos. Agora, o que realmente necessitamos é nos afirmemos identitáriamente como religiosos (as) de matriz afro em todos os espaços sociais. Especialmente nós de Candomblé de Nação Ketu, pois enquanto não mostrarmos a que viemos nesta sociedade e ficarmos enclausurados, nos escondendo e/ou negando nossas convicções religiosas, crianças, adolescentes e jovens praticantes de religiões dos orixás, ínkices e voduns estarão sofrendo todas as formas de preconceitos religiosos.   

Se no passado homens e mulheres lutaram por fazer valer o direito de praticar o culto de origem africana em nosso país, hoje cumpre a nós continuarmos a luta por um país que nos respeite como praticante de culto ancestral tão antigo quanto a história da humanidade.

            O segundo artigo deste mês, intitulado, Principais influências Religiosas Africanas nas Tradições Brasileiras, refere-se a um fragmento da obra A alma africana no Brasil – os Iorubás da pesquisadora Ronilda Iyakemi Ribeiro. Neste fragmento, ela discute sobre algumas diferenças entre o Candomblé de Nação e a Umbanda. Texto de uma profundamente enorme para pessoas que pretende aderir  uma religião afro. A autora lida com a questão com clareza e objetividade e com linguagem simples e de fácil acesso, faz com que o leitor compreenda as fronteiras entre essas duas distintas religiões. 

            A lenda que apresentamos neste mês intitulada Iemanjá é nomeada protetora das cabeças, destaca o fator que fez da Orisá Iemonjá transformar-se em senhora e protetora de todos os ori (cabeças).

Destacamos o calendário de atividades do mês de junho na Egbé Òní Omorisá Sangó:

Dia 03  (Sábado) das 15 às 17 horas – Atendimento Publico ;

Dia 07 (Quarta Feira) – 20 horas - Amal;

Dia 10 (Sábado) das 15 às 17 horas – Projeto Discutindo Candomblé Ketú;

Dia 17 (Sábado) das 15 às 17 horas - Projeto Discutindo Candomblé Ketu;

Dia 25 (Domingo) Café da Manhã, Reunião Mensal e Almoço de Confraternização na Egbé.

Esperamos que os escritos desse mês possam contribuir com o crescimento de todos(as) que acessarem e lerem os artigos. Boa leitura e excelente mês a todos(as)!

Parte da Família: Fagner, Ester, Babá Bosco, Ya Suzi, Well, Ya Angela, Humbona.

Intolerância Religiosa afeta autoestima de alunos (as) e dificulta aprendizagem, aponta pesquisa





Brasília – Fernando* estava na aula de artes e tinha acabado de terminar uma maquete sobre as pirâmides do Egito. Conversava com os amigos quando foi expulso da sala aos gritos de "demônio" e "filho do capeta". Não tinha desrespeitado a professora nem deixado de fazer alguma tarefa. Seu pecado foi usar colares de contas por debaixo do uniforme, símbolos da sua religião, o candomblé. O fato de o menino, com então 13 anos, manifestar-se abertamente sobre sua crença provocou a ira de uma professora de português que era evangélica. Depois do episódio, ela proibiu Fernando de assistir às suas aulas e orientou outros alunos para que não falassem mais com o colega. O menino, aos poucos, perdeu a vontade de ir à escola. Naquele ano, ele reprovou e teve que mudar de colégio.
Quem conta a história é a mãe de Fernando, Andrea Ramito, que trabalha como caixa em uma loja. Segundo ela, o episódio modificou a personalidade do filho e deixou marcas também na trajetória escolar. "A autoestima ficou muito baixa, ele fez tratamento com psicólogo e queria se matar. Foi lastimável ver um filho sendo agredido verbalmente, fisicamente, sem você poder fazer nada. Mas o maior prejudicado foi ele que ficou muito revoltado e é assim até hoje", diz.
Antes de levar o caso à Justiça, Andréa tentou resolver a situação ainda na escola, mas, segundo ela, a direção foi omissa em relação ao comportamento da professora. A mãe, então, decidiu procurar uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência contra a docente. O caso aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Se for condenada, o mais provável é que a professora tenha a pena revertida em prestação de serviços à comunidade.
Já a Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), responsável pela unidade, abriu uma sindicância administrativa para avaliar o ocorrido, mas a investigação ainda não foi concluída. Por essa razão, a professora – que é servidora pública – ainda faz parte do quadro da instituição, "respeitando o amplo direito de defesa das partes envolvidas e o Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro", segundo nota enviada pelo órgão. A assessoria não informou, entretanto, se ela está trabalhando em sala de aula.
A história do estudante Fernando, atualmente com 16 anos, não é um fato isolado. A pesquisadora Denise Carrera conheceu casos parecidos de intolerância religiosa em escolas de pelo menos três estados – Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. A investigação será incluída em um relatório sobre educação e racismo no Brasil, ainda em fase de finalização.
"O que a gente observou é que a intolerância religiosa no Brasil se manifesta principalmente contra as pessoas vinculadas às religiões de matriz africana. Dessa forma, a gente entende que o problema está muito ligado ao desafio do enfrentamento do racismo, já que essas religiões historicamente foram demonizadas", explica Denise, ligada à Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca Brasil), que reúne movimentos e organizações da sociedade civil.
Denise e sua equipe visitaram escolas de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Ouviram de famílias, professores e entidades religiosas casos que vão desde humilhação até violência física contra alunos de determinadas religiões. E, muitas vezes, o agressor era um educador ou membro da equipe escolar.
"A gente observa um crescimento do número de professores ligados a determinadas denominações neopentecostais que compreendem que o seu fazer profissional deve ser um desdobramento do seu vínculo religioso. Ou seja, ele pensa o fazer profissional como parte da doutrinação, nessa perspectiva do proselitismo", aponta a pesquisadora.
Alunos que são discriminados dentro da escola, por motivos religiosos, culturais ou sociais, têm o processo de aprendizagem comprometido. "Afeta a construção da autoestima positiva no ambiente escolar e isso mina o processo de aprendizagem porque ele se alimenta da afetividade, da capacidade de se reconhecer como alguém respeitado em um grupo. E, na medida em que você recebe tantos sinais de que sua crença religiosa é negativa e só faz o mal, essa autoafirmação fica muito difícil", acredita Denise.
Para ela, a religião está presente na escola não só na disciplina de ensino religioso. "Há aqueles colégios que rezam o Pai-Nosso na entrada, que param para fazer determinados rituais, cantar músicas religiosas. Criticamos isso no nosso relatório porque entendemos que a escola deve se constituir como um espaço laico que respeite a liberdade religiosa, mas não que propague um determinado credo ou constranja aqueles que não têm vínculo religioso algum", diz.
*o nome foi alterado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS AFRICANAS NAS TRADIÇÕES BRASILEIRAS


Por: Ronilda Iyakemi Ribeiro
   Bastide (1971) traçou uma geografia das religiões africanas no Brasil. De um modo geral, nesse conjunto identificam-se duas grandes vertentes: a que deu origem aos candomblés e xangôs e outra que originou os candomblés de caboclo e candomblés de angola. No contexto urbano, sujeitos a novas influências do catolicismo e do espiritismo de Allan Kardec, surgiu a umbanda.
               O termo candomblé, usado para designar tradições e cultos religiosos de nações do grupo sudanês, designava inicialmente danças religiosas e profanas. A denominação xangô, usada em Pernambuco, nas referências ao local de culto e aos próprios rituais, aponta para a importância desse orixá naquela região. Vejamos algumas particularidades do Candomblé e da Umbanda.

Candomblé

   Desde o início da escravidão, africanos de distintas origens étnicas uniram-se para realizar cultos religiosos e rituais mágicos que dariam origem ao candomblé. Essa denominação origina-se do termo Kandombile (culto e oração). Segundo Carneiro (1969), somente em 1830 o candomblé surgiria oficialmente no Engenho Velho, na Bahia. O Engenho Velho, fundado por três mulheres negras - Iyá Dêtá, Iyá Kalá e Iyá Nassô, viria a dividir-se posteriormente em função de lutas pelo poder.
   Proibido pelas autoridades civis e religiosas, sua prática tornou-se oculta, provocando aumento no preconceito em relação a ele. A identificação das nações de candomblé baseia-se no reconhecimento do idioma utilizado: nomes dos orixás, alimentos e roupas, cânticos rituais e histórias apresentando elementos do idioma ewe, indicam tratar-se de nação jeje; se em vez de ewe, usam-se elementos do iorubá, sua identidade é kêtu e nagô. Segundo Lody (1987), as nações foram organizadas em: Kêtu-nagô - iorubá; Jexá ou Ijexá - iorubá; Jeje - fon; Angola - banto; Congo -banto; Angola-Congo - banto; Caboclo - modelo afro-brasileiro.
    O termo jeje-nagô indicador da união de elementos iorubás e fon, refere-se a um tipo de candomblé mais próximo dos ideais africanos. Como variante desse termo temos o nagô vodum, tentativa de união entre cultos aos orixás e culto aos voduns. Possuímos excelentes estudos de caráter etnográfico e histórico sobre o candomblé. Não tendo por objetivo deter-me em suas particularidades no presente contexto, remeto os leitores interessados por esse tema ao trabalho de outros pesquisadores. A respeito da história do Candomblé constituem boas fontes, entre outras, os trabalhos de Carneiro (1969) - Candomblés da Bahia; Lody (1987) - Candomblé. Religião e Resistência Cultural; Verger (1954, 1957, 1968), particularmente o Notes sur le Culte des Orisa et Vodun à Bahia, la Baie de tous les Saints, au Brésil et à l'ancienne Côte des Esclaves en Afrique (1957) e Bastide (1971 e 1978) - As religiões africanas no Brasil e O candomblé da Bahia (Rito Nagô) . Sobre o candomblé na Bahia, além das obras já citadas, constituem excelentes trabalhos os de Juana Elbein dos Santos (1986), particularmente Os Nagô e a Morte: Pàdè, Àsèsè e o Culto de Égun na Bahia e o documento histórico e etnográfico do Ile Ase Opó Àfonjá, intitulado Meu tempo é agora de Maria Stella de Azevedo Santos (1993), a Mãe Stella de Osoosi. A respeito do candomblé em São Paulo, Reginaldo Prandi (1991), reúne dados em Os Candomblés de São Paulo. Entre os trabalhos significativos mais recentes incluem-se O segredo das folhas. Sistema de Classificação de Vegetais no Candomblé Jêje-Nagô do Brasil, de Barros (1993) e A Galinha d'Angola. Iniciação e Identidade na Cultura Afro-Brasileira de Vogel e colaboradores (1993).

Umbanda
    Na Umbanda ocorre, conforme mencionado acima, o encontro de elementos de múltiplas origens étnicas e religiosas. Num altar ou congá encontramos imagens cristãs, budistas, tradicionais africanas, além da representação de personagens como índios, pretos-velhos, marinheiros, ciganos, crianças (ere) etc. As orações incluem cânticos em português aos orixás e rezas cristãs como o Pai Nosso e a Ave Maria. No dizer de Magnani (1986:13), a umbanda certamente não é uma espécie de degeneração de antigos cultos africanos ou do espiritismo Kardecista e sim o resultado de um processo de reelaboração, em determinada conjuntura histórica, de ritos, mitos e símbolos que adquirem novos significados no interior de uma nova estrutura.
    É sabido que os africanos escravizados, proibidos de expressar suas crenças religiosas consideradas práticas de feitiçaria, podiam, entretanto, cantar e dançar músicas profanas.
    Associados em nações, batuques, confrarias, cerimônias mortuárias, toleradas pelo regime escravista, aí encontraram espaço para a preservação e transformação de suas crenças e de seus mitos expressos em ritos. Chamados, simultaneamente, a organizarem-se em confrarias e irmandades católicas, como a dos Homens Pretos, por exemplo, podiam cultuar suas próprias divindades ao prostrarem-se diante de ícones cristãos, construindo correspondências entre eles: Santa Bárbara, protetora dos homens nas tempestades, relacionou-se a Oya, senhora dos ventos e tempestades; São Jorge, vencedor do dragão infernal, relacionou-se a Ogum, guerreiro, senhor dos metais; Sant'Ana, a avó de Jesus associou-se a Nanã Buruku, um dos orixás mais antigos da tradição iorubá; Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada num rio, foi associada a Oxum, senhora das águas doces.
       Nas cerimônias de congos e angolas, impossibilitados de render homenagem a seus ancestrais, passaram a render culto a espíritos-símbolos dos antepassados: Pai Joaquim de Angola, Pai Benedito, Pai João, Maria Conga...
        A chamada macumba surgiu no Rio de Janeiro por volta da segunda metade do século XIX: a cabula banto assimilou, sem o suporte de uma mitologia ou doutrina capaz de integrar seus elementos, a estrutura dos cultos nagôs e alguns orixás, caboclos catimbozeiros, práticas mágicas européias e muçulmanas, santos católicos e influências do Espiritismo de Kardec.
         Desse complexo surgiria a Umbanda, na década de 1920, também no Rio de Janeiro: profissionais liberais, militares e funcionários públicos, advindos do kardecismo, migraram para esses cultos, impondo-lhes nova estrutura e desencadeando um processo de institucionalização (Magnani, 1986). Leitores particularmente interessados por esse tema podem obter informações fidedignas nos trabalhos de Magnani (1986) - Umbanda; Birman (1983) - O que é Umbanda? e Ortiz (1978) - A morte branca do feiticeiro negro, entre outros. ((RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana no Brasil- Os iorubas..p. 111 a 113) Salvador-BA, Ed. Oduduwa, 1996

LENDA DO MÊS: IEMANAJÁ É NOMEADA PROTETORA DAS CABEÇAS


Dia houve em que todos os Orisás, deveriam atender ao chamado de Olodumare para uma reunião. Iemanjá estava em casa matando um carneiro, quando Esú chegou para avisá-la do encontro.
Apressada e com medo de atrasar-se e sem ter nada para levar de presente a Olodumare, Iemonjá carregou consigo a cabeça do carneiro como oferenda parra o grande pai. Ao ver que somente Iemanjá trazia-lhe um presente, Olodumare declarou: “Awoyó orí Dori re” “Cabeça trazes, cabeça serás”. Desde então Iemanjá é a senhora de todas as cabeças. ( PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Cia das Letras, 2001, p. p. 388)