Babálòórisá
João Bosco D’Sangó
Boas Vindas!!
MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
FELIZ 2012
Cremos que final de um ano e inicio de outro é momento ideal para
reflexão de nossas atitudes. Ocasião para pesarmos nossas ações e reações
cotidianas, pois nós praticantes de Candomblé temos a certeza que a cada ato
implica em sua contrapartida, a saber, uma reação. Se fomos justos, corretos e
coerentes com nossos semelhantes, a reação é a benevolência e a harmonia. E como cremos que não estamos no ayè ( mundo
visível) por acaso, e cremos também que nós praticantes do culto de Candomblé
devemos cotidianamente buscar harmonizarmos conosco mesmo, com nossos iguais e
com a natureza, ressalvamos a necessidade de pensarmos em tudo que fizemos no
nosso dia a dia.
Assim agindo, teremos a certeza que o ano de 2012 será uma sequencia de
paz e harmonia ou de uma sucessão de negatividades. E como sempre almejamos a
positividade, seria de bom alvitre que rogássemos aos Orisás que nesse
ano sejamos mais ético, mais valorosos, mais conscientes de nosso papel de
candomblista na sociedade na qual estamos inseridos, que sejamos mais
destemidos em nossas praticas religiosas diárias. Que sejamos mais atuantes não
só no interior nossas ilè, ègbé e templos, mas principalmente na sociedade.
Temos que agir como candomblista em todos os circuitos onde estivermos
presentes. Se somos éticos em nossos templos, também devemos agir com ética e
ponderação na sociedade. Se bradamos aos quatro ventos que buscamos a harmonia
entre humanos e natureza, não temos o direito de sair por ai feito doidos
jogando bitucas de cigarros em qualquer lugar, diga-se de passagem, nós
candomblista nem deveríamos fumar, para não poluir o nosso corpo que templo dos
nossos Orisás.
Para começarmos nossas reflexão trazemos artigo da yalorixá Maria Stella
de Azevedo Santos do Yalorisá do
Ilè Asé Opò Afonjá, no qual a mesma faz reflexão sobre a inveja.
Já o segundo texto visa demonstrar a atitude de um sargento evangélico
contra um soldado praticante de Candomblé. Bem como demonstrar a coragem do
soldado em não negar sua fé nos Orisás.
Em contrapartida o terceiro texto trata-se de uma poesia de autoria de Oliveira Silveira no qual ele destaca a importância que é para nós
negros e afrodescendentes a busca de nossas origens. Poesia de um valor lúdico
fantástico para compreendermos a validade de nossas lutas pelo (re) conhecimento
e valor das origens negras.
Por sua vez o quarto artigo intitulado “Ewé! A força que vem das Folhas”, de autoria do Bàbáloorisá
Olúmolà, busca compreender e demonstrar a importância das ervas no mundo
do Candomblé. Artigo de valor acadêmico profundo e de um rigor cientifico
fenomenal. Diga-se de passagem, tal artigo foi lido e debatido com grande
afinco entre os membros da Ègbé Òmorisá Sangó, no projeto
Discutindo Candomblé de Nação Ketu.
A Ègbé Omorisá Sangóesta
em recesso de suas atividades rotineiras.
Desejamos a todos (as) leitores (as) desde meio de comunicação um ano de
alegria, paz e prosperidade e muito asé e sucesso em todos os aspectos.
Boa leitura
MÃE STELLA: REFLEXÃO SOBRE A INVEJA
Maria Stella de Azevedo Santos- Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá |
A minha função espiritual faz de mim uma intermediária
entre o humano e o sagrado e para exercê-la da melhor maneira possível tenho
como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até
mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma
grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém
chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será
que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto
o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de
inveja, a pessoa fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que
gera uma necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas
vezes, menos mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me
leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber em
que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar controlar e emanar este
sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira prejudicial ao outro,
mas principalmente a si, pois qualquer energia que emitimos, reflete primeiro
em nós mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para
nossa reflexão: Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade
era brilhar. Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que
não desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais
forças o vagalume parou e disse à cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante
a cobra respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir
um precedente. O vagalume então perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?-
Não, respondeu a cobra. – Fiz algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a
cobra.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A
cobra respondeu: – Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem
o poder de ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de
acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade,
onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.
Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de idade que
a mãe me procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não tirava nota
dez na escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se afastassem
dela. Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela chegou me
dizendo que não aparesentava mais o referido problema, que até tirou nota dois
e não se incomodou.
Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar vaidosa, pois
acreditei que aquela nova atitude era resultado de nossas conversas. Foi quando
ela me disse:- Sabe por que não me incomodei de tirar nota dois, Mãe Stella?
Ansiosa, perguntei:- Por que? Ao que ela me respondeu: – Porque o resto da
turma tirou nota um. Rimos juntas da minha pretensa sabedoria de conselheira e
do natural instinto de vaidade que ela possuía e que muito trabalho teria para
domá-lo. O desejo que a garota possuía de brilhar mais do que os outros, com
certeza atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não queria ser sábia,
ela queria ser vista.
O caso contado anteriormente fez lembrar-me de outro que
eu presenciei, onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer que as
pessoas estavam olhando para ela com inveja. Cansada daquele queixume,
disse-lhe que quem não quer ser visto, não se mostra.
A inveja é popularmente conhecida com
olho gordo. Se não queremos ser atingidos pelo olho gordo do outro, devemos
cuidar para que que nossos olhos emagreçam, não deixando que eles cresçam com o
desejo de possuir o alheio. Já que fazemos dieta para nossos corpos serem
saudáveis, devemos também fazer dieta para nossos olhos, pois eles refletem a
beleza da alma. A tendência agora é, portanto, olhos magrinhos, mas não
anoréxicos, pois alguns desejos eles precisam ter, de preferência desejos
saudáveis.
Maria Stella de
Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Fonte Imagem: Mãe Stella
faz uma bela reflexão sobre a inveja. Foto: Diego Mascarenhas / Ag. A TARDE/
09.07.2010
Fonte: Mundo Afro
JUSTIÇA MILITAR CONDENA SARGENTO EVNAGÉLICO POR CONSTRANGIMENTO A SOLDADO CANDOMBLECISTA
O
Superior Tribunal Militar (STM) manteve, dia 3 último, por unanimidade, a
condenação do sargento do Exército J.R.M a dois meses de prisão pelo crime de
constrangimento ilegal, capitulado no artigo 222, parágrafo primeiro, do Código
Penal Militar (CPM). O sargento, pastor de uma igreja evangélica, teria
apontado uma pistola carregada na cabeça de um soldado, praticante do
candomblé, para "testar" a convicção religiosa do subordinado.
Segundo a denúncia do Ministério Público Militar (MPM),
em 8 de abril de 2010, no interior da reserva de armamento do 1º Depósito de
Suprimento, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o terceiro-sargento J.R.M
dirigiu-se, com uma pistola em punho, até a bancada do soldado que fazia a
manutenção de fuzis. O graduado municiou e carregou a arma e depois a apontou
para a cabeça do soldado. Em seguida mandou a vítima realizar uma contagem, de
um a três, indagando se ele teria mesmo o "corpo fechado".
Em depoimento, o réu afirmou que o ofendido é praticante
de candomblé, tendo inclusive várias marcas no corpo que indicavam que ele
estaria protegido por divindades.
Com a arma apontada, o sargento teria perguntado à vítima
se ela tinha certeza daquilo que estava afirmando. O soldado, então, respondeu
"sim", sem esboçar qualquer manifestação de temor. Segundo os autos,
a munição usada pelo réu era de manejo, utilizada para treinamento, sem
potencial ofensivo (sem pólvora ou projétil). Porém, a vítima não tinha
conhecimento do detalhe.
Segundo o MPM, o soldado foi constrangido a fazer o que a
lei não manda, pois viu-se obrigado a manifestar-se sobre sua convicção
religiosa e sob a mira de uma arma, o que "consistiu num verdadeiro teste
de fé religiosa".
Ainda segundo a promotoria, os depoimentos das
testemunhas confirmam as versões dos fatos. "Todos os elementos do tipo
penal estão presentes. O réu, mediante grave ameaça, compeliu o ofendido a
colocar em prova a sua fé", afirmou a acusação.
De acordo com a promotoria, a liberdade de consciência e
de crença é um dos direitos fundamentais esculpidos na Constituição Federal,
ficando evidente que a motivação foi a intolerância religiosa.
O acusado afirmou ter baixado a arma porque percebeu que
não tinha procedido corretamente. Afirmou que, posteriormente, chamou a vítima
e se retratou com ela dizendo estar arrependido e relatado que a munição era de
manejo. O sargento também informou que se retratou perante o padrasto do
ofendido e que ele mesmo comunicou o fato ao seu comandante. O réu arguiu, em
sua defesa, que trabalha há 22 anos com armamento, tendo perfeito conhecimento
das normas de segurança. E como utilizou arma de manejo, considerava que a sua
conduta não tinha sido incompatível com as normas de segurança.
O advogado do acusado afirmou que a conduta do réu teve o
intuito de admoestar (censurar) e não o de constranger o soldado e requereu a
sua absolvição por "não constituir o fato infração penal", com base
no artigo 439, alínea b, do Código de Processo Penal Militar (CPPM).
Em seu voto, o relator da apelação, ministro Francisco
José da Silva Fernandes, negou provimento ao apelou e manteve íntegra a
sentença de primeiro grau. "O fato se reveste da maior gravidade, pois o
acusado é graduado, tem mais de vinte anos de serviço e teve uma conduta
altamente reprovável", afirmou.
Para o magistrado, o acusado deixou claro o seu
inconformismo em razão de sua crença religiosa, dizendo que era inadmissível
alguém se considerar com o "corpo fechado" e resolveu testar a fé do
ofendido.
Ainda segundo o relator não procede a alegação da defesa
de que a confissão espontânea, nesse caso, resulte na atenuação da pena,
prevista na alínea d, do inciso 3º, do artigo 72, do Código Penal Militar
(CPM). "A minorante só é aplicada quando a autoria do crime é ignorada ou
imputada a outro, realidade diversa do caso em concreto".
Fonte:
Correio Nagô
ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Ritos
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as enfim
Me encontrei
Oliveira Silveira- pelenegra.blogspot.com
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as enfim
Me encontrei
Oliveira Silveira- pelenegra.blogspot.com
EWÉ! A FORÇA QUE VEM DAS FOLHAS!
Por Bàbá Asògún Olúmolà
(Ulisses Manaia)
(Texto publicado na revista “Candomblés
nº 1”, – da Editora Minuano – Fevereiro de 2011)
KÒ SÍ
EWÉ, KÒ SÍ ÒRÌSÀ! Expressão no idioma Yorùbá que quer dizer: “Se
não há folhas, não há Òrìsà!” Esta expressão dá ao leitor o
entendimento da importância das folhas dentro dos rituais de origem africana,
no entanto, queremos aqui ampliar este conceito, traduzindo por folhas os
vegetais de um modo geral, incluindo além de suas folhas, seus frutos,
sementes, e até mesmo seu caule; e traduzindo por Òrìsà, os diversos usos
“mágicos” desses vegetais.
Na caminhada
evolutiva do homem, que hoje a maioria dos estudiosos acredita ter começado no
continente africano, ele se valeu da observação da natureza para o
desenvolvimento de habilidades que até então ele não possuía e, naquele
continente onde “tudo começou”, sociedades ditas “animistas” ou “tradicionais”
continuam até hoje vivendo em harmonia com a natureza, dela tirando
ensinamentos para a sua vida social. Animistas porque acreditam que “toda
manifestação viva pressupõe a presença de uma força vital, determinante do
ideal de viver”, e que utilizando práticas específicas esta “força” poderá ser
utilizada em seu favor! E dentro deste conceito os vegetais representam um
grande potencial de possibilidades.
“Se para a medicina ocidental o conhecimento do nome científico das
plantas usadas e suas características farmacológicas é o principal, para os
Yorùbá o conhecimento dos ofò, encantações pronunciadas no momento da
preparação das receitas e transmitidas oralmente, é o que é essencial. Neles
encontramos a definição da ação esperada de cada uma das plantas que entram na
receita.” (Ewé, Pierre Verger, 1995).
Bom, diante
dessa referência concluímos que as plantas e seus derivados não são utilizados
aleatoriamente, visam atender necessidades específicas, ou seja, qual o
resultado esperado? Ou ainda: utilizar a folha certa no momento certo! Vimos
também que a ação esperada dessas folhas está ligada ao que vai ser dito no
momento de sua utilização, o ofò, que nada mais é do que a utilização da
palavra enquanto transmissora de àse. Verger diz ainda que à primeira vista é
difícil perceber nas diversas “receitas”, que tem como ingredientes elementos
vegetais, qual é a parte “mágica”, ou seja, aquela que o efeito vai se dar pelo
àse nela contido, e quais as virtudes testadas experimentalmente dessas
plantas, ou seja, ele diz com isso que muitas dessas plantas já tiveram suas
propriedades farmacológicas comprovadas.
Dentro desse
contexto quero destacar o trecho de uma canção brasileira, interpretada pela
célebre cantora baiana Maria Bethânia:“Salve as folhas brasileiras! Salvem
as folhas para mim! Se me der a folha certa, e eu cantar como
aprendi, vou livrar a Terra inteira de tudo que é ruim! Eu sou
o dono da terra, eu sou o caboclo daqui! Eu sou Tupinambá
que vigia, eu sou o dono daqui!” (meu grifo).
O que me
chamou atenção nessa composição, e que destaco para o leitor, é que ela ilustra
o trecho acima de Verger, e mais ainda, a utilização das folhas está associada
a um dos grupos indígenas brasileiros, sugerindo que esses nativos, primeiros
habitantes do nosso País, também conheciam essa prática!
Ainda de
Pierre Verger:“Na língua Yorùbá, freqüentemente existe uma relação
direta entre os nomes das plantas e suas qualidades, e seria
importante saber se receberam tais nomes devido às suas virtudes ou se devido a
seus nomes, determinadas características foram a elas atribuídas.”
(meu grifo).Como ilustração, transcrevemos o trecho de uma preparação Yorùbá
para obtenção de dinheiro:
PÈRÈGÚN NÍ Í PE
IRÚNMOLÈ L’ÁT’ÒDE ÒRUN W’ÁYÉ! (É Pèrègún que chama os
espíritos do além para a terra!)
PÈRÈGÚN WÁ LO
RÈÉ PE AJÉ TÈMI WÁ L’ÁT’ÒDE ÒRUN! (Pèrègún,
agora vá e chame minhas riquezas do além!)
Nesta
preparação encontramos referência a uma folha, conhecida pela maioria de nós: o
Pèrègún, cujo nome é a contração do verbo “PÈ”, que significa chamar,
com a palavra “EGÚN”, que significa espírito, ancestral, etc. Percebe-se então
que esta folha tem a finalidade de “chamar (invocar) espíritos”, e que a
própria pronúncia de seu nome já funciona como um ofò! No caso da receita
acima, a sabedoria daqueles nossos ancestrais yorubanos que a elaboraram fez
esse trocadilho: se Pèrègún pode chamar espíritos, pode chamar a
riqueza! Certa vez ouvi de meu “bàbá” que o negro yorubano tem sobre
nós a vantagem do uso corrente do idioma, enquanto nós aqui no Brasil ficamos
presos a textos prontos, que nos foram transmitidos ao longo do tempo.
Para algumas
pessoas, principalmente para aquelas que não estão ligadas aos cultos de matriz
africana, pode parecer um tanto “primitivo” pensar dessa maneira, digo, esperar
resultados a partir da utilização de certas plantas, de sementes, etc., enfim
de elementos da natureza, aparentemente inanimados. No entanto, repetimos,
existe por traz da utilização desses elementos uma questão cultural. Eles se
utilizam desses elementos da natureza acreditando que eles expressam as suas
necessidades perante o “Criador”, o destino final de seus pedidos:
“…Uma composição mágica parece ser considerada como uma coleção de
coisas materiais, às quais é dado um valor simbólico; juntas constituem uma
mensagem…” (Ewé, Pierre Verger, 1995)
Entre os
Yorùbá, os ofò são frases curtas nas quais muito freqüentemente o “verbo” que
define a acão esperada, chamado de “verbo atuante”, é uma das sílabas do nome
da planta ou do ingrediente empregado. No entanto, o elo entre o nome da folha
e a ação esperada, invocada através do ofò, não se limita apenas ao verbo, mas
pode aparecer em uma frase curta ou longa, nesse caso estabelecendo uma relação
simbólica entre algumas “características naturais” daquela planta a as
“necessidades” do homem.
Vejamos alguns exemplos: ÀT’ÒJÒ ÀTEÈRÙN KÌ Í RE TÈTÈ
(Tètè nunca está doente, nem na estação chuvosa nem na seca)
Vejamos alguns exemplos: ÀT’ÒJÒ ÀTEÈRÙN KÌ Í RE TÈTÈ
(Tètè nunca está doente, nem na estação chuvosa nem na seca)
Este ofò faz
referência a uma folha conhecida popularmente por Bredo
ou Caruru de porco, e cujo nome Yorùbá é Tètè.
É uma folha facilmente encontrada, tanto no meio urbano, nas margens de
calçadas, como no meio rural, e confesso que antes de conhecer o seu valor
ritual, passava-me despercebida, assim com muitas folhas que não conhecemos!
Percebemos pela tradução que é uma planta resistente às variações da natureza,
permanecendo sempre saudável, e não é este tipo de força que queremos para
nossa vida?
OJÚ ORÓ NI Ó
N’LÉKÈ OMI, TÈMI Ó L’Á LÉ (Ojú oró flutua na água, eu também
ficarei por cima)
Ojú
oró é conhecida popularmente por Erva de Santa Luzia,
é uma planta aquática, encontrada em rios ou lagoas. Percebemos que nesse ofò
evoca-se o poder dessa planta de conseguir manter-se sempre por cima da água!
Em território
Yorùbá, na preparação dos trabalhos ligados à obtenção de todo tipo de sorte,
ou para afastar algum mal, esses vegetais são pilados e misturados ao sabão
africano Ose (oxé) Dudu,
com o qual toma-se banho, ou então são torrados, até a obtenção de um pó, que
poderá ser misturado à comida, a bebidas destiladas, ou até mesmo esfregado em
incisões feitas no corpo, particularmente nos punhos.
Essas práticas quase não sobreviveram aqui no Brasil, por ocasião da reestruturação do culto aos Òrìsà, no entanto há uma prática viva entre nós: o Oro Asa Òsónyìn ou Sassanha, como é mais conhecido, um ritual realizado nas casas de raízes Yorùbá, que significa basicamente: Ritual de proteção de Òsónyìn. Utilizamos o recurso dos “cânticos da folhas” para determinar que as oferendas sejam cobertas de realizações, uma vez que esses cânticos possuem “verbos atuantes” que facilitam a comunicação entre o povo e os Ancestrais Divinizados. No caso de uma Iniciação para Òrìsà ou “Feitura de Santo”, este ritual é realizado para preparar a “esteira”, onde ficará deitado o iniciado e o “banho” para lavar todos os seus objetos rituais, bem como para os seus banhos matinais diários.
Essas práticas quase não sobreviveram aqui no Brasil, por ocasião da reestruturação do culto aos Òrìsà, no entanto há uma prática viva entre nós: o Oro Asa Òsónyìn ou Sassanha, como é mais conhecido, um ritual realizado nas casas de raízes Yorùbá, que significa basicamente: Ritual de proteção de Òsónyìn. Utilizamos o recurso dos “cânticos da folhas” para determinar que as oferendas sejam cobertas de realizações, uma vez que esses cânticos possuem “verbos atuantes” que facilitam a comunicação entre o povo e os Ancestrais Divinizados. No caso de uma Iniciação para Òrìsà ou “Feitura de Santo”, este ritual é realizado para preparar a “esteira”, onde ficará deitado o iniciado e o “banho” para lavar todos os seus objetos rituais, bem como para os seus banhos matinais diários.
Referências Bibliográficas:
- Monteiro, Marcelo dos Santos,
1960 – Curso Teórico e Prático de Folhas Sagradas – Oro Asa Òsónyìn – Rio de
Janeiro – 1999 – 59 p. (Biblioteca Nacional);
- Verger, Pierre Fatumbi – Ewé:
o uso das plantas na sociedade ioruba – São Paulo: Companhia
das, Letras, 1995;
das, Letras, 1995;
- CD “Dentro do mar tem rio”,
Maria Bethânia – Gravadora Biscoito Fino.
- Contato: ulissesmanaia@hotmail.com
(Artigo catado do site:
www.ocandomble.wordpress.com)
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