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Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

sábado, 7 de setembro de 2013

Festa de Sangó (27.07.2013)










Intolerância predomina contra praticantes do candomblé

Intolerância predomina contra praticantes do candomblé

Casa de Xangô, em Cuiabá busca reforçar identidade da crença

Mary Juruna/MidiaNews
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Babalorixá Bosco de Xangô busca divulgar conhecimento da religião como forma de resistência ao preconceito
www.midianews.com.br
DÉBORA SIQUEIRA
DA REDAÇÃO
Filho e neto de umbandistas, o pai Bosco de Xangô, hoje um babalorixá do candomblé (uma espécie de sacerdote), conheceu o preconceito contra as religiões afrobrasileiras na pele ainda na infância. Chamado de ‘filho de macumbeiros’, ele tinha dificuldade em fazer amigos. Mas foi na adolescência que ele chegou a renegar a fé para ter amigos.

“Senti essa necessidade. Eu preciso viver em comunidade, seja ela espiritual, sindical ou religiosa. Mas com o tempo assumi a minha religião”, explicou Bosco, que também é professor efetivo de História na rede estadual de educação.

O preconceito fez com que Bosco utilizasse não só seus conhecimentos de babalorixá e também de professor, para promover entre os frequentadores da casa de candomblé que administra ainda mais estudos sobre essa religião. 
"Muitos candomblecistas passaram a assumir a identidade, deixando as camuflagens de lado, ao se declarem católicos ou espíritas. Espírita para mim são kardecistas, o que é muito diferente do candomblé"


Ele avalia que, com o avanço das igrejas neopentecostais, na década de 80, houve um aumento da intolerância contra as religiões de matriz africana, associando o culto e os rituais do candomblé ao mal fazer, a demonização, a barbárie, mesmo tendo expoentes da cultura brasileira declaradamente do candomblé, como Jô Soares, Gilberto Gil, Jorge Amado, Zélia Gattai, Gal Costa, Raul Seixas, dentre outros.

Durante a construção da Casa de Xangô, evangélicos derrubaram os muros por não aceitar um local de dedicação aos orixás, no bairro Jardim Universitário, na Capital.

“Eles vinham fazer cultos aqui na frente, entregavam panfletos para os frequentadores da casa. Nós não precisamos nos converter ao cristianismo, nós já temos a nossa convicção”. 

Entender a religião e os porquês dos rituais envolvendo sacrifício de animais e aprofundar os conhecimentos nos orixás seria a saída para que muitos candomblecistas pudessem sair da sombra do catolicismo e do sincretismo religioso e passassem a assumir a sua fé, opina.

“Tem muitos que renegam a fé para manter a empregabilidade. Muitos candomblecistas passaram a assumir a identidade, deixando as camuflagens de lado, ao se declarem católicos ou espíritas. Espírita para mim são kardecistas, o que é muito diferente do candomblé”, argumentou.

Bosco resolveu, então, tirar o véu que paira sobre o candomblé e, na semana passada, realizou o I Seminário Candomblé – Religião de Resistência no Brasil, realizado na pelo 'Egbé Omorisá Sangó e a Associação Cultural Ébano Brasil.

O objetivo foi abordar as dificuldades e o cotidiano das casas de candomblé no Brasil, que ainda enfrentam o preconceito estabelecido em relação às religiões afro-brasileiras.

Dentre os temas estavam "O Candomblé e o Candomblecista no século XXI", "Casa de Candomblé - que espaço é esse?", "Mulher e Candomblé" e "O toque de Sangó - alujá: que ritmo é esse?".

O seminário antecedeu a festa em homenagem ao orixá Xangô, considerado no candomblé como o "grande rei de Oyô", região da África de onde vieram os negros escravizados no Brasil.

Conforme o Censo 2010, em Mato Grosso 379 pessoas assumiram ser praticantes de candomblé. Em Cuiabá, apenas 51 pessoas. Várzea Grande e Rondonópolis são os locais onde há mais membros, com 143 e 141 praticantes, respectivamente.

Mas, o número pode ser bem maior do que o informado oficialmente. O candomblé tem cinco nações: Ketu, Angola, Jêje, Jêjeefon e Ijexá. As três primeiras existem em Cuiabá. Apenas da nação Ketu, há três casas na Capital - uma delas é a Casa de Xangô.

Filha de santo

Mary Juruna/MidiaNews
Advogada é uma yiawo, uma filha de santo
A advogada Iandra Santos Moraes, 24 anos, é uma yiawo (filha de santo), iniciada no candomblé há três anos e a primeira filha da Casa de Xangô. Natural de Campinápolis, ela teve contato com o kardecismo ainda nessa cidade e, quando veio fazer faculdade de Direito em Cuiabá, teve contato com a umbanda. Em uma dessas idas, uma das entidades disse para ela conhecer o candomblé.

Em Campo Grande (MS), durante uma festa do candomblé, ela ‘bolou um santo’, ou seja, foi escolhida por um orixá e teve um desmaio, um sinal da escolha para ser iniciado. Sem entender o que aconteceu, ela voltou para Cuiabá e, depois de um tempo, aceitou ser iniciada.

Como uma espécie de batismo, as mulheres têm a cabeça raspada. No começo a mãe dela não aceitou muito a ideia, mas quando percebeu as mudanças na vida de Iandra, de abdicar de festas e do álcool, passou a aceitar mais. 

A advogada mora há cerca de dois meses no Rio de Janeiro, onde trabalha em um escritório de advocacia. Como é advogada, sabe que não pode ser demitida por uma escolha religiosa. Ela tem consciência de que pode vir a ser alvo de preconceito, mas já está preparada para isso.

Iandra se lembra de um episódio durante a faculdade, sobre o preconceito sofrido por sua escolha. Ela começou a usar uma espécie de lenço (ojá) na cabeça e vestia-se branco. Os amigos mais próximos sabiam o porquê, mas a maioria dos colegas achou que ela estava com câncer. 

Como era época da Copa do Mundo, ela foi questionada em sala de aula se usava o lenço em alusão à África do Sul e foi quando assumiu ser candomblecista para a turma. A surpresa negativa foi de uma colega evangélica que passou a evitá-la e questionar os outros colegas por manter amizade, perguntando se não tinham medo de abraçá-la e pegar uma doença, já que ela ‘pactuava demônios’.

“Meus amigos sabiam da minha escolha e foram firme ao meu lado, e a menina ficou bloqueada de chegar perto de mim e de falar sobre mim”. 

Rituais do candomblé
Ao se adentrar numa casa de candomblé existe todo um ritual para os iniciados na prática. Quem não é estranha tudo. Mas para cada ato existe uma explicação. 
Mary Juruna/MidiaNews
Os atabaques são comandados por ogãs, homens que não incorporam os orixás


O iniciado deve entrar no portão, segurar uma caneca, pegar a água em um pote de barro, girar a caneca na cabeça e atirar a água no chão. Assim, fica pronto para deixar o mundo profano e adentrar na área dos orixás.

No Brasil são cultuados 16 orixás. Estes por sua vez, são forças representadas pelos quatro elementos: ar, fogo, terra e água. Na África, em especial na Nigéria e Bênin, são 256. 

Os africanos na condição de escravizados e trazidos para o Brasil também trouxeram o culto aos orixás. Eles resolveram recorrer mais aos que ele se identificavam devido as condições de vida, como Oxossi (da caça), Yemanjá (Grande Mãe), Xangô (Senhor da verdade e Justiça), dentre outros.

Em quase todas as casas de candomblé há jardins em homenagem a Ossain, orixá da botânica que ajuda a colher a erva no período certo. Os rituais do candomblé exigem o uso de ervas sagradas. E há quartos dedicados aos orixás. Ainda restam construir mais espaços a todos os 16.

Há também uma espécie de oferenda nas áreas das casas, que é um contra axé, ou seja, para evitar a entrada de energias ruins. Um dendezeiro é plantado na porta como um contra axé natural. 

O sacrifício de animais também é uma prática do candomblé. A explicação do babalorixá é de que a imolação serve como uma espécie de renovação da vida e alimenta a força cósmica da natureza. 

O ritual da imolação não é prática diária, mas realizada em ocasiões especiais e o sangue do animal é colocado aos orixás, mas a carne é aproveitada para alimento dos frequentadores das casas e, as penas, usadas nos altares. Tudo é aproveitado.

As mulheres e o candomblé

Mary Juruna/MidiaNews
Mãe Angela de Ogum e o balarorixá Bosco de Xangô falando sobre a importância da mulher no candomblé
Cuiabá é quase uma exceção no Brasil, onde as mulheres, as chamadas yalorixás (sacerdotisas como os babalorixás), são as principais dirigentes do candomblé no país. As três expoentes são Mãe Menininha do Gantoá, Dona Ana de Ogum e Mãe Estela de Oxossi. 

As mulheres têm um papel muito importante dentro do candomblé, pois foi por meio delas que a religião foi preservada. Durante a escravidão, elas habitavam na casa grande e foram mantendo seus rituais, enquanto os homens eram obrigados aos serviços pesados. 

“Como o candomblé tem muita relação com a fertilidade, a mulher já nasce com essa importância dentro da religião, ela já nasce com o axé”, explicou Mãe Ângela de Oxum, também professora da rede estadual.