Boas Vindas!!

MOJUBÁ !
Temos o intuito de incentivar e discultir textos sobre as religiões de matriz africana entre outras questões que envolve essa temática, também ter um espaço para divulgação da atividades da Egbé que alcança o Ilê Axé Sangó e o Centro Cultural Ébano Brasil.

terça-feira, 31 de maio de 2011

SE NÃO LOUVARMOS...

Babàloòrisá João Bosco D’ Sangò
      
  Parece que foi ontem que estávamos desejando feliz ano novo aos nossos familiares, amigos/as, pois é já estamos no meio do ano de 2011. Cremos ser momento de fazermos um balanço dos seis primeiros meses deste ano, e refletirmos sobre que conduta estamos levando no Ayé (plano material). Sem conduto querer ser fiscal da ordem, porém acreditamos que é uma forma podermos trilhar outro semestre com mais afinco, na certeza que tudo que fazemos, sentimos e agimos tem a presença de nossos Orisás. Entretanto de vez enquanto esquecemos que nossas Divindades tudo ouve, tudo vê, tudo sabe. E começamos a agir impensadamente, ora sendo levianos, ora sendo displicentes com as coisas de nossa religião. Nunca é demais lembrarmos que louvar é sem dúvida uma forma que nossos antepassados encontraram para que nossas Divindades se aproximem cada vez mais de nós, para tanto neste mês este meio de comunicação traz um artigo de uma profundidade fantástica para refletirmos sobre a importância do ato de louvar entre nós religiosos de matriz afro de Nação Ketu. O artigo intitula-se Oriki(invocação), no qual destaca a importância e o sentido dos orikis entre nós.
    Assim sendo, é bom que destaque o ato de louvar nunca seja demais. Simples ou complexo deve a cada minuto de nossa existência enaltecer os Orisás por todas as dádivas que temos em nossas vidas.
    Prosseguindo com a reflexão acerca dos yorubás e sua importância na constituição cultural-religioso afrobrasileira, apresentamos neste meio de comunicação outro texto da obra da pesquisadora Ronilda Iyakemi Ribeiro, da sua obra Alma Africana no Brasil- Os ioruba. Desta feita destacamos uma parte do capitulo 06 da referida obra, intitulado: A palavra e Comunicação, no qual a autora destaca a importância da palavra entre o povo de cultura yorubana, porque não também a nós afros-religiosos.
    Em se tratando de antepassado, a lenda deste mês, destaca que devemos dar aos nossos antepassados, que, diga-se de passagem, muitas vezes é negligenciado por muito de nós. O que seria do presente, sem o passado? Portanto a de se destacar o que somos sem nossas raízes, sem nossos antepassados. Só estamos aqui como seres viventes no Ayé, em detrimento daqueles que já se foram para o Orun. E que nos legaram conhecimentos, cultura, e formas singulares de louvar, seja para pedir, agradecer, invocar nossas Divindades.
    Destaca-se como datas significativas para nós afro-descendentes
praticamente ou não de religião afro o dia 05 de junho – Dia do Meio Ambiente. Em varias oportunidades este meio de comunicação destacou a preciosidade que a natureza tem para nós religiosos afro. A máxima nunca é demais lembrar, não existe Candomblé sem folhas, portanto temos e devemos ser defensores incontestáveis do meio ambiente saudável, limpo, pois é nesse meio que esta presente Divindades, homens, mulheres, animais, entre outros, por isso a busca do equilíbrio e harmonia os seres do Ayé e do Orun depende da vida em plenitude em consonância com a natureza. Para tanto, este blog traz a baila o artigo, especialmente adaptado para este meio de comunicação, intitulado – Os Orisás e a Natureza.
    Três personalidades afro-descendentes são destacáveis neste mês. São eles Luiz Gama, nascido no dia 21 de junho de 1830, Machado de Assis, nascido no mesmo dia em 1839 e João Candido em 24 de junho de 1890.
     Luiz Gonzaga Pinto da Gama, filho da valente e insubmissa negra nagô Luiza Mahin. Nasceu no estado da Bahia. Seu pai era um fidalgo português, estróina, que em 1840 vendeu o próprio filho a um traficante de escravos, para pagar dívidas de jogo.
            A alma de Luiz Gama era tão pura e generosa que jamais se permitiu revelar, a quem quer que seja, o nome de seu pai, que se cobriu de opróbrio com este gesto insólito e monstruoso. Já em 1848, Luiz Gama não era mais escravo, conseguindo fugir do seu último "senhor", uma vez que carregava consigo documentos comprobatórios de sua condição de negro liberto, com os quais lhe é permitido assentar praça no Exército Brasileiro, quando em 1854 alcança o posto de cabo graduado. Luiz da Gama trazia no sangue o temperamento de negro rebelde, herdado certamente de sua mãe, Luiza Mahin, tanto é que por "atos de insubordinação” acabou por dar baixa no serviço militar, atos, que no seu entender, praticou com consciência e altivez na defesa da sua própria dignidade de criatura humana.
    Luiz Gama foi copista e amanuense, funções das quais era afastado por força de perseguições racistas e políticas movidas pelos seus detratores, por não tolerarem as inclinações liberais e as suas atividades em favor dos negros escravizados e oprimidos. Luiz Gama formou-se em direito, conseguindo com talento, coragem e obstinação libertar mais de quinhentos escravos. É dessa época que se projeta a sua fama de orador arrebatado, impetuoso e intrépido quando se punha diante de uma causa nobre, fazendo do jornalismo e da tribuna um poderoso instrumento com o qual vergastava os exploradores do suor alheio e os inimigos da humanidade.
    Foi ele que brandiu a célebre frase que afirmava de modo peremptório que "aquele negro que mata alguém que deseja mantê-lo escravo, seja em qualquer circunstância, mata em legítima defesa ! ". Segundo Américo Palha, estas palavras de fogo foram proferidas de forma corajosa, da tribuna do Tribunal do Júri .
    De outra vez, em que se metia em defesa dos negros escravos, Luiz Gama depara com o temido José Bonifácio, o moço, como seu adversário no júri popular. Sem demonstrar o menor temor consegue estrondosa vitória que o permitiu libertar mais de cem negros escravos.
    Abolicionista dos mais eloqüentes, convivendo com Castro Alves, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, Luiz Gama, entretanto, não chegou a ver o triunfo de sua causa, pois veio a falecer a 24 de agosto de 1882. (www.sampa.art.br)
    Com referência a Machado de Assis, seu nome completo é Joaquim Maria Machado de Assis nascido no Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839, filho de um mulato e uma branca ele é considerado como o maior nome da literatura nacional.  Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. Autodidata, nunca frequentou universidade. Lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras. (www.wikipedia.org)
    A terceira personalidade nascida no mês de junho é João Candido Felisberto nascido em 24 de junho de 1890. Filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto. João Candido liderou em 1910 a Revolta da Chibata, que objetivava entre outras coisas o fim dos castigos corporais que os marujos sofriam ainda mesmo depois do decreto do presidente marechal Deodoro da Fonseca que proibia os castigos nas Forças Armadas. Candido alistou-se na Marinha do Brasil em Janeiro de 1895, aos 14 anos de idade. Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais. (www.wikipedia.org)

Calendário do mês de Junho

    Destacamos o calendário de atividades do mês de junho na Egbé Òní Omorisá Sangó:

Dia 01(Quarta Feira) – 20 horas – Amalá;

 
Dia 11 (Sábado) das 15 às 17 horas – Atendimento Publico;

 
Dia 18 ( Sábado) das 15 às 17 horas – Projeto Discutindo Candomblé Ketú; 


Dia 25 (Sábado)  das 15 às 17 horas - Projeto Discutindo Candomblé Ketu;


Dia 26 (Domingo) Café da Manhã, Reunião Mensal e Almoço de Confraternização na Egbé.

    Esperamos que os escritos desse mês possa contribuir com o crescimento de todos(as) que acessarem e lerem os artigos. Boa leitura e excelente mês a todos(as)!

ORIKI (INVOCAÇÃO)

Por: Sikiru salami.

      A palavra Oriki, é formada por duas palavras, Ori = Cabeça e KI = Louvar / saudar. Então Oriki significa, saudar ou louvar a algo que estamos nos referindo.
    Sendo as palavras portadoras de força e asè, dá-se aos orikis o poder de invocarem por si próprios a força vital.
   Com a importância a ele atribuída, sua entonação sempre emociona as pessoas a quem são dirigidos. Falam de seus feitos e virtudes, suas características e fraquezas, tendo assim valor documental, pois registrou e registra passagens importantes da cultura tradicional Yorubá.
   Usamos os orikis por várias razões, direcionados a um òrìsá, egungun, entes queridos, casamentos, komojade, relatam episódios de bênçãos, ressaltam animais e plantas. Quando referido a òrìsá, enfatizam-se suas qualidades e realizações, pois tais chamamentos acreditam-se, tornam-se infalivelmente ouvidos e as oferendas recebidas. Assim sendo, servem para louvar e pedir auxilio do ALTO.
     Os òrisas podem receber o oriki ou o pipe (chamado): oriki Sòngo ou Sòngo pipe, oriki Esù ou Esù pipe, oriki Òyà ou Òyà pipe. Para outros òrìsá usamos apenas o termo oriki, Yemonja, Òba, Òsun e etc.. Estes são devidamente somente alguns exemplos.
   Os orikis são repetitivos em algumas palavras, citamos como exemplo os orikis de Sòngo que incluem: Olukoso, e Òba Koso ( orei que não se enforcou), Alado (aquele que racha pilão), Ogiri èkun (leopardo feroz), Asangiri (aquele que racha parede), Alagiri (aquele que abre paredes), Alafin Òyò ( rei de Òyò). Os relativos à Òyà são:
   Òyà oriri (o vendaval), Ti ndagi lokeloke ( a que corta a copa das árvores), Òyà ariná bora bi aso (Òyà vestida de fogo). Os de Òsun relatam: A fide rémó ( a que enfeita seus filhos com braceletes de bronze), O wa yanrin wa yanrin kowo si ( a que cava e cava a areia para esconder suas riquezas). Os relativos à Òba incluem: O jowu obirin ( a mulher ciumenta), To t’Ori owu kòla si gbogbo ara ( a que por ciúmes se cobriu de incisões ornamentais).
    Tanto os sacrifícios como os orikis são primordiais para que se tenha a presença do orisa ou dos ancestrais e sua entonação pode facilmente induzir ao tranze. Pessoas iniciadas no culto a determinado orisa podem entrar neste transe ao ouvir esta recitação.
Oriki-orilè é a denominação de orikis referentes ás linhagens. Pode ser dirigida a família ou a um de seus membros, com o intuito de louvar seus ancestrais, demonstrar apreço ou aplacar sua ira.
Usado para rememorá-los e dar conhecimento aos mais novos dos feitos de seus antepassados.
   Orikis deste tipo não usados para causar emoções apenas louvamos o reconhecimento dos predicados dos antepassados, onde enfatizamos sua profissão, gosto alimentar e outras de suas particularidades.
    Esta modalidade é usual entre os Yorubas, quando temos eventos como casamentos, komojade, inauguração de casa, ritos fúnebres e etc..
     Existem pessoas especializadas nestes oriki-orilé, que sempre são convidadas para fazer estas recitações.
   Os nascimentos têm um oriki diferenciado, chamado de oriki amutòrunwa, que narram as circunstancias do nascimento da criança. Os gêmeos são saudados com oriki-orilè e oriki amutòrunwa, especialmente dedicados a eles.
    Nos funerais de anciãos os oriki-orilè são entoados pelas mulheres e no caso de caçadores se faz o mesmo.
Nota-se que estes chamados são para invocar a presença do homenageado.
   Em caso de viagens são entoados em forma de benção relembrando suas profissões, motivo da viagem e Ewó  (interdições).
Lembramos, porém, que existe uma relação entre oriki-orilè e Ila-oju (marcas faciais), ambos servem para identificar suas linhagens, constituindo sinais de identidade familiar.
    Sabemos que animais, cidades, povos, terras possuem orikis próprios, que por vezes são acompanhados de tambores tais como: bata, bembé, gangan, ogidigbo, igbin, gbèdu e etc. Convém que faça-mos uma breve referência a esses tambores. A seu respeito, diz, J. Ki-Zerbo, veículos da história falada, esses instrumentos são venerados e sagrados. Com efeito, incorporam-se ao artista e seu lugar é tão importante na mensagem que, graças às línguas tonais, a música torna-se diretamente inteligível, transformando-se o instrumento na voz do artista sem que este tenha que pronunciar uma palavra se quer. O tríplice ritmo, tonal, de intensidade e de duração, faz-se então, musica significante. A musica está tão intimamente ligada a essa tradição que narrativas somente podem ser feitas sob a forma cantada.
     Assim sendo temos: Bata, tambor sagrado tocado com dois atori, é usado no culto dos òrìsá, sendo o preferido de Sòngo.
Bèmbè, tocado com um único atori, é o preferido de Òsun.
   Ogidigbo e gangan, são tambores sagrados, sendo este ultimo pendurado no ombro e tocado com um atori, usado para marcar a cadência dos cânticos rituais.
   Igbin, usado para acompanhar cantos e outros fundamentos do orisá OBATALÁ, divindade sagrada que modela o corpo do homem.
Gbèdu, usado somente para anunciar a morte de um Oba (rei).
   Entoados com finalidade religiosa ou não, o simples ouvir de um oriki impõem silencio, compenetração e respeito dos presentes. (www.ocandomble.wordpress.com/)

A palavra: ação e comunicação entre os povos africanos de cultura yoruba

O idioma
    O idioma falado pelos iorubás é o iorubá, com variações de dialeto - egba, ekiti, ibadan, ife, ijebu, ijesa, ikale, ilaje, ondo, owo e oyo, por exemplo. De fato, cada nome destes refere-se simultaneamente a uma cidade, um dialeto e um agrupamento humano. Egba refere-se à cidade de Abeokuta, capital do estado de Ogun. Os egba, todos reconhecidos como descendentes de Oranyan, viviam principalmente em povoados e aldeias independentes umas das outras. Viram-se obrigados, em virtude das guerras, a unirem seus 153 povoados. E formaram Abeokuta.
(...)
    O idioma iorubá integra o grupo lingüístico nigero-congolês e estima-se que seja falado por cerca de 25 milhões de pessoas. Este grupo lingüístico compõe, juntamente com o nilosaariano e o afro-asiático, o conjunto de famílias lingüísticas existentes na Nigéria. (Olaniyan, 1985)

Tradição Oral: importância e poder da palavra
    A linguagem cotidiana dos iorubás, extremamente rica em metáforas, abrange um imenso conjunto de lendas, contos, fábulas, vigorosos ditados, provérbios, relatos mitológicos e históricos. A tradição oral realiza, conforme afirma Vansina (1982), dois níveis de registro: um consciente - registro de acontecimentos passados (crônicas orais de um reino ou genealogias de uma sociedade segmentária) e o outro, inconsciente - literatura oral em todas suas formas: epopéias; poemas, que incluem canções, cantigas e cânticos; fórmulas, que incluem provérbios, charadas, orações e genealogias e narrativas, compreendendo estas a maioria das mensagens históricas conscientes.
    A tradição oral é, entretanto, além desse imenso conjunto literário, a grande escola da vida. Baseada numa concepção de homem e de universo que confere à Palavra origem divina, nela reconhece um poder sagrado, criador, capaz de preservar e destruir. Hampate Bâ (1982), referindo-se às sociedades orais, aponta para o fato de que em tais sociedades o vínculo entre o homem e a palavra é muito forte: o homem permanece ligado à palavra que profere.  Sendo a palavra uma força fundamental emanada do próprio Ser Supremo, possui caráter sagrado e a ela vinculam-se forças ocultas.   A tradição africana concebe a fala como um dom de Deus: divina no sentido descendente e sagrado no sentido ascendente materializa ou exterioriza as vibrações das forças.
      A fala humana, eco da fala divina, pode colocar em movimento forças latentes nos seres e objetos, como um homem que levanta e se volta ao ouvir seu nome. É, por essa razão, o grande agente ativo da magia africana (p. 186).   Sendo o universo visível concebido e sentido como a concretização ou o envoltório de um universo invisível constituído de forças em perpétuo movimento, a ação mágica (manipulação das forças) geralmente almeja restaurar o equilíbrio perturbado e restabelecer a harmonia.
      Naturalmente, o poder da palavra de um homem depende de como ele utiliza sua fala. O poder criador e operativo da palavra encontra-se em relação direta com a conservação ou com a ruptura da harmonia no homem, no mundo que o cerca e na relação entre o homem e o mundo. Por isso a mentira é considerada uma verdadeira lepra moral. A língua que falsifica a palavra vicia o sangue daquele que mente. Aquele que corrompe sua palavra corrompe a si próprio. Quando alguém pensa uma coisa e diz outra, separa-se de si mesmo, rompendo a unidade sagrada, reflexo da unidade cósmica. Cria desarmonia ao redor de si e em seu próprio interior. Cuida-te para não te separares de ti mesmo. É melhor que o mundo fique separado de ti do que tu separado de ti mesmo. Esta relação homem/palavra, em que a mentira não tem lugar, é particularmente enfatizada quando se trata de transmitir palavras herdadas de ancestrais ou de pessoas idosas, na corrente de transmissão oral. O tradicionalista é disciplinado interiormente, preparado para jamais mentir, considerado um homem bem equilibrado, senhor das forças que o habitam. Ao seu redor as coisas se ordenam e as perturbações se aquietam.
  Disciplinar a palavra significa também não utilizá-la imprudentemente. Se constitui a exteriorização das vibrações de forças interiores, inversamente, a força interior nasce da interiorização da fala. O grau de evolução de um adepto no Komo, por exemplo, não é medido pela quantidade de palavras que conhece e sim pela conformidade de sua vida a tais palavras. (Hampate Bâ, 1982)
      Assinala Leite (1992) a existência de duas grandes modalidades da palavra: a exotérica, de domínio mais extenso e comum, ligada aos processos menos complexos de socialização e a esotérica, de domínio restrito aos nela iniciados, que atinge os mais elevados níveis de conhecimento e abstração.
     Os iorubás consideram a palavra sete vezes mais poderosa que qualquer rito ou preparado mágico. Consideram seu poder criativo não-restrito ao momento da Criação mas passível de ação atual. Uma vez pronunciada desencadeia resultados por vezes imprevisíveis. Conecta a mente humana à matéria, permitindo a ação daquela sobre esta. (Texto adaptado da obra: RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana no Brasil- Os iorubas. Salvador-BA, Ed. Oduduwa,1996. p 45 e 47).

LENDA DO MÊS - Èsú instaura conflito entre Yemonja, Oyá e Osun

Um dia foram ao mercado Oyá, Osun, e Yemonjá.
      Èsú entrou no mercado conduzindo uma cabra.  Ao ver as três Orisás, aproximou-se delas e disse que tinha um compromisso importante com Orunmilá, por isso deixaria a cidade. E pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. E ainda propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. No qual as três concordaram prontamente.
    A cabra foi vendida por vinte búzios. Então as três Orisás puseram os dez búzios de Èsú à parte. E começaram a dividir os dez búzios que lhes cabiam. Porém perceberam que era impossível dividir os dez búzios em partes iguais.
      As três então começaram a discutir quem ficaria com um búzio a mais.
     Foi então que Yemonjá disse que era costume os mais velhos ficarem com a maior porção. Portanto, era a ela que pertencia o búzio que estava sobrando. Osun rejeitou a proposta afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia. Oyá intercedeu, dizendo que, em caso de contenda semelhante, a parte maior cabia à do meio.
      Não conseguindo chegar a um consenso, resolveram chamar um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Eis que o homem não conseguiu a façanha. Outro e outro homem foi chamado e nada de conseguir a divisão por igual. Não havia meio de resolver a contenda.
       Èsú voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Pegou sua parte na venda. Foi então que elas pediram a Èsú que dividisse outros dez búzios entre equitativamente entre elas.
     Èsú então deu três a Yemonja, três a Oyá e três a Osun. E segurou o décimo. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. E disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orum.
     Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orisás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Orum. Assim também no Ayé deve ser. Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados.
“Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”
Yemonja, Oyá e Osun reconheceram que Èsú estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada uma.

    Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oyó passaram a ser mais cuidadoso com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna. (PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Cia das Letras, São Paulo-SP, 2001. p.70 a73)

Os Orisás e a Natureza

    O Candomblé ainda nos dias de hoje no Brasil,busca preservar sua hierarquia religiosa e cultural mesmo após séculos de opressão, luta por um espaço, de respeito e valorização do culto afrobrasileiro. Mas não podemos deixar de nos conscientizarmos da importância da preservação da natureza. A educação ambiental é primordial a todos/as os/as seguidores/as do Culto aos Orisás.
    Olodumare é o Criador de todos/as os Orisás, que receberam o poder de governar o mundo e todos os elementos da Natureza. Essa divisão determinou a cada Orisás sua regência, tais como: água, terra, fogo e ar. Quando cultuamos os Orisás, estamos reverenciando as forças da Natureza, tornando-se uma única energia.
    Os rituais no Candomblé estão ligados à fauna e flora, por meio de folhas e banhos com água de cachoeiras, rios, mares e florestas. Ou seja, sem Natureza não existem os Orisá. A água é um bem precioso em todas as mitologias. São moradas de diversas Divindades; os rios, lagos, mares e cachoeiras são o caminho direto no Culto Yorubá das grandes Íyàbas ( Nanã, Osun, Yemonjá, Oyá, Ewá).
    Nana, uma das Iyabás mais velhas e respeitadas. Representada pela terra do fundo ou das margens dos rios, que dessa junção forma a lama, o lodo, o pântano, local que é sua principal morada e regência. Nana é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Ikú ( a morte) para longe. É quem permite que a vida seja mantida.
    Osun nas religiões tradicionais africanas e afrobrasileiras é considerada a senhora das águas doces: rios, cachoeiras. É a Mãe regente da maternidade.
    Yemonjá, senhora do mar e das águas salinas de nosso ecossistema aquático, traz a proteção a todos/as aqueles/as que por suas águas navega, abençoando com abundância de pesca para a sobrevivência dos que dela vivem.
    A terra é o completo conjunto de unidades ecológicas. Na cultura Afrobrasileira existem vários Orisás com ligação dieta e indireta com a terra, formando um conjunto de elementos ligados ao solo terrestre. ( Esú, Onilé, Obaluaye/Omolu, Ode, Osoosi, Otin, Osain).
Esú, o primeiro Orisá a pisar na Terra, é o principio da força da naturezam da concepção global da existência dos seres humanos, o senhor da comunicação, designado a levar aos pés de Olódumarè os pedidos da Humanidade. Orisá fundamental para o desenvolvimento da religião, pois é o  principio dinâmico da comunicação do oráculo de Ifá.
Onilé, a dona da terra, que representa nosso planeta como um todo, em nossa vida, está intimamente ligada a todos os elementos que a natureza nos oferece: ar, água, terra, minerais, plantas e animais.
   Obaluaye/Omolu os Orisás ligados diretamente a terra (Aiyê). Todos temem, por enviar as doenças, muitas vezes, como castigo ou como desígnios divinos para uma renovação da vida.
Da mesma forma que ele traz as enfermidades, nos traz a cura, que se dá através das inúmeras ervas extraídas da terra daí a importância da preservação de nossa flora. A terra é viva como cada um de nós; nasceu, esta vivendo, ficará doente e morrerá. É necessário que morramos antes dela.
Odé, Osòosí e Otin, senhores da floresta e caçadores. Orisás da natureza e todos os sres que nela habitam. Orisás da fartura e da riqueza que conduzem à sobrevivência.
A conscientização de todos(as) os(as) seguidores(as) do Candomblé é inidispensavel, pois quando todos(as) podem achar que a força desses Orisàs esta em seus templos, não está. Suas forças e regências moram dentro da Natureza.
Osain o dono das folhas, raízes e cascas. É ele que preserva as plantas, e os segredos das ervas medicinais, usadas no Culto Afrobrasileiros para fins curativos e ritualísticos. Sua importância é tão fundamental, que nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença no Candomblé. Kó si ewe si Orisá ou seja, sem folhas não há Orisá. Segundo alguns mitos foram espalhadas as folhas de Osain por um forte vento, fazendo com que este Orisá compartilhasse suas folhas com todos (as). Essa partilha deu a cada Orisá sua ligação direta com o reino vegetal.
O poder e Asé de todos (as) Orisás está nas forças da Natureza, e em todas as Divindades afros, foram citados neste artigo, apenas alguns deles (as) para conscientizar a todos(as) adeptos ou não do Candomblé, a importância  da preservação do meio ambiente. A decisão de proteger os ambientes naturais e controlar a poluição de uma forma geral, não está apenas nas mãos dos políticos e grandes industriais, está, sobretudo na rotina diária de cada cidadão (ã) comum de nosso planeta. (www.revistaorixas.com; ano IV- Nº 20.p. 22 e 23)